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Caro G......,
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Creio que a pessoa deve ler o que lhe apetece. Isso é válido, em especial, para os jovens que estão dando os seus primeiros passos no mundo da literatura. Forçar, em demasia, um jovem que está engatinhando por este universo a ler Dostoiévski, Paulo Freire ou Machado de Assis, é como forçá-lo a apreciar culinárias exóticas e sofisticadas, antes que ele tenha o paladar preparado para isso.
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Acredito que a leitura deve ser prazer e não obrigação. E, como prazer, deve ser exercida voluntariamente; no máximo estimulada. Podemos convidar alguém a ler, mas não forçá-lo, como ocorre nas escolas. Talvez esteja aí um dos problemas. A obrigatoriedade de ler pode estar afastando os jovens dos livros. Meu pai foi forçado a comer peixe quando era menino. Peixe é bom para a saúde, menino, dizia a minha avó. Forçou-o, guela abaixo. Resultado: quando pôde escolher, meu pai nunca mais comeu um único pedaço de peixe.
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O prazer pela leitura é despertado quando deixamos o paladar se aprimorar com naturalidade. Deixemos o jovem ler o que bem entender! Qualquer lixo vale! Dessa forma ele ganhará prazer pela leitura e, lá adiante, naturalmente, vai buscar por coisas melhores, que preencham a sua psique já mais exigente. A seleção será natural, como o é na natureza. É assim também na vida da gente. Acontece com a comida, com os vinhos, com nossos gostos musicais, etc. Darwin explica.
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Isso aconteceu comigo. Lá na adolescência li coisas que o colégio me obrigou a ler. Achei um verdadeiro saco. Li por obrigação e, salvo exceções, detestei todos aqueles livros. Mas eu tive muita sorte, pois meu pai era um leitor contumaz e, por sugestão sua (Oh, sábio seu Aloisio!), garrei pra ler uns deliciosos e intrigantes livros da Agatha Christie. Lembro-me de “O caso dos dez negrinhos” e “O assassinato de Roger Acroid”. Tenho-os até hoje em casa. Li também muito Paulo Coelho. Hoje não aprecio mais o Paulo Coelho, mas me serviu. Que bom! Devo sinceros agradecimentos a ele, o Paulo Coelho.
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Assim se iniciava o meu gosto pela leitura. Depois, é claro, naturalmente, e por vontade própria, li coisas de melhor qualidade: Machado, Eça, Graciliano, Camus, Borges, Nietzche, Kafka, etc.
Hoje, já maduro, acho-me inclinado a ler coisas que não me interessavam antes. E aquelas leituras que já me animaram, hoje não fazem mais a minha cabeça... Acho que no futuro acontecerão novos ciclos como este em meu mundinho literário. A vida é ciclo, e nós estamos sempre em transformação, não é?
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Abraços
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(mar 2009)
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