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Crônica publicada no Jornal do Cambuci & Aclimação*
Edição 1137 - sexta, 10 de julho de 2009.
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Escrevo esta coluna há 1 ano, e, desde então, é comum receber e-mails de leitores do Jornal e suas deliciosas visitas a meu blogue. Entre os comentários que recebo destes queridos, venho notando uma confusão recorrente, uma dúvida generalizada em relação à forma correta de se batizar esse tipo de texto que escrevo. Seria mesmo crônica como, aliás, é batizada a coluna? Ou seria conto? “Cesar, parabéns pelo conto desta semana!”, me escreveu a Esther, nossa leitora do bairro da Liberdade, na semana passada. Peraí! Mas aquele era um conto, ou era uma crônica? Hummm...
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Antes de tudo quero dizer que concordo. É de fato tênue a linha que separa uma coisa de outra. São modalidades de textos que se confundem, se misturam, mimetizam-se entre si. No fim vira uma confusão danada, uns chamam contos de crônicas, outros dizem o contrário. Alguns mais espertos, com receio de irem em bola dividida e tomar caneladas, afirmam certeiramente: "são textos!". Ora, isso não vale, pois textos todos eles são mesmo! Definitivamente, o que está faltando é uma boa explicação do que seria cada um e quais as diferenças entre eles. Vamos lá? Acompanhe-me nesta reflexão pouco acadêmica e bastante especulativa:
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Uma crônica é um relato, uma dissertação, um caso verdade, uma observação cotidiana, um reflexão político-social; pode ser uma opinião acerca de algo ou uma crítica filosófica, enfim, uma crônica é um texto com mais inclinação para o jornalismo do que para a literatura, disto ninguém discorda. A crônica pode ainda ser bem humorada, reflexiva, indignada, melancólica, dramática ou metafísica, mas trará sempre um tom intimista. Pode reparar. Você lê e, de repente, se sente íntimo do cronista. É como se ele agora estivesse ali ao seu lado, lhe confidenciando coisas e impressões muito pessoais, como um compadre levando um papo de fio de bigode com o outro, sabe como é?
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Temos e tivemos grandes cronistas no Brasil! Dos contemporâneos, apesar de já falecido, o que mais gosto é o Rubem Braga. Brilhante, sensacional, o Braga! Dos mais antigos, aprecio Monteiro Lobato e Machado de Assis, entre tantos mais. Lendo suas crônicas, que eram publicadas em periódicos há mais de 100 anos, pode-se perceber de maneira incrivelmente clara a sociedade, os modos e os costumes da época. Suas genialidades imortais levam-nos a uma viagem no tempo, a um passado que não vivemos, e conhecemos apenas por filmes, novelas... Uma delícia! Aliás, uma crônica bem escrita é justamente isso: uma delícia. É como uma foto bem tirada que vai se amarelando com os anos, mas ainda assim permanece bela, congelando para a posteridade, emoções e valores de uma época, coisas e pessoas que um dia existiram em certo lugar. Já os contos...
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Bem, os contos são parte de outro universo. É o mundo da imaginação, da ficção. Conto é modalidade literária! Um conto é uma espécie de minirromance, uma breve paródia, uma historieta, uma fábula, uma novelinha, enfim...
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Importante para facilitar a identificação: conto é sempre ficção, pois se for relato, depoimento ou opinião, então já não é conto, é crônica!
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É... de fato o assunto é mesmo polêmico, há grandes controvérsias! E estas são apenas as minhas inconsequentes opiniões. Não duvido que devam existir conceitos catedráticos a respeito, mas para ser sincero, seja conto ou seja crônica, para mim, são todos causos!
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Cesar Cruz
Mar/ 08
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* crédito dos parceiros no rodapé do blogue.
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10 comentários:
Muito bom seu "texto", meu caro. Concordo completamente. Às vezes também me equilibro entre o conto e a crônica. Alguns textos são difíceis de se classificar, pois têm um pouco de cada coisa. São como uma mulher ao redor dos quarenta anos: tem toda a sensualidade e segurança de uma mulher madura, mas ainda deixa um rastro de deliciosa juventude e graça.
Abraço,
Gabriel
24.3.08
Extremamente elucidativo!! Cai por acaso, pois procurei no gogle a diferença entre contos e cronicas. Melhor impossivel.
Obrigado César
abr Dilmo
30.7.08
Salve blogueiro! Obrigado por esta aula!
Fernando
01.8.08
NOSSA,OBRIGADO,SEU TEXTO ME AJUDOU MUITO,DE 15 QUE EU LI O SEU FOI O UNICO QUE NÃO TEM MUITO "FLOREIO",É BEM EXPLICADO SÓ QUE COM UMA LINGUAGEM FACIL DE ENTENDER.
BJS
17.9.08
BINGO! FOI JUSTO ISSO QUE ACONTECEU COMIGO PORQUE FUI NO GOOGLE PARA SABER O QUE SÃO CRONICAS E ACABEI VINDO PARA AQUI! GOSTEI DAS SUAS EXPLICAÇÕES. ME AJUDARAM MUITO! OBRIGADO!
UM ABRAÇO
ELCIO
Muito bom! Que iluminada me deu essa sua explicação! Vou usar em um trabalho da faculdade! Sauhsahusauhsauhsa! Não conta pra ninguém hem!
Obrigado César!
Luiz Henrique
Marília - SP
explicadíssimo! Melhor q isso só dois disso! ahaha!
Obrigado Mr. Cruz!
Daniela Yonamine
Caro Cesar,
Com o intuito de dar uma parcela de contribuição aos seus leitores, quanto à diferença entre conto e crônica, trascrevo, adiante, os dois conceitos desses gêneros da literatura, escritos por SERGIUS GONZAGA, professor de Literatura da Universidade Federal de Porto Alegre, RS, atual Secretário Municipal da Cultura, e autor de CURSO DE LITERATURA BRASILEIRA, Editora Leitura XXI, 487 págs., Porto Alegre, 1ª ed. 2004.
Diz, Sergius Gonzaga:
"O CONTO é uma narrativa de ficção, em prosa, cuja extensão é breve, se comparada à do romance. Trata-se de um relato curto, denso, nervoso, com reduzido número de personagens e de eventos, raramente atingindo mais de vinte páginas no formato normal de um livro".
Quanto à CRÔNICA, escreve Sergius Gonzaga:
"A CRÔNICA é o único gênero literário produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e prédeterminada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem.
Regra geral - prossegue S.G. -, a crônica é um comentário breve e despretencioso sobre algum fato do cotidiano - algo a ser lido "enquanto se toma o café da manhã", na feliz expressão de FERNANDO SABINO".
Digo eu: claro, na Era da Internet todos os gêneros da literatura não mais estão restritos aos livros, jornais e revista.
O que permanece imutável são os requisitos essenciais desses gêneros da literatura: romance, novela, conto e crônica.
Um abraço
Pedro
Gostei da explicação sobre as diferenças entre crônica e contos, na verdade eu não sabia.
Agora gostei do finalzinho, que pra você são todos causos...rs.
Beijos.
Pois é, Cruz. Essa fronteira é de difícil demarcação mesmo. Mas o exercício que vc fez é muito válido para ir reconhecendo o território. Não se pode aceitar mais a definição do Mário de Andrade,de que conto é aquilo que o autor chamar de conto. Tem muitos teóricos que tem analisado o tema. Aqui no sul fiz oficinas com o Charles Kiefer e o Carpinejar e continuo sem saber. Bem, a busca continua. Qdo souber aí perde a graça. O Kiefer até cunhou um termo híbrido: cronto.
Vale a pena ler o texto abaixo:
http://charleskiefer.blogspot.com/2009/04/e-conto-opu-cronica.html
Abraço e obrigado por visitar meu blog. Muito me animaram teus comentários. Depois vou dar mais uma volta por estas bandas aqui.
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