Trabalho de parto

Quando escrevi a crônica "Um grito entalado", queria justamente poder fazer isso: gritar para desentalar uma indignação que nasceu dentro de mim. Aquele crime covarde não me deixava dormir, eu tinha que escrever, tinha que escrever, tinha que escrever! E escrever é o meu jeito de gritar, de mostrar minha indignação... Só que dessa vez deu uma polêmica danada. Muita gente gostou, mas a maioria não. Recebi comentários fortes como estes: "Pô Cesinha, você tá igual ao Datena, quer se promover às custas da desgraça da menina?" e "Cesar, tire isso do seu blog, ninguém ainda sabe o que foi que ocorreu na verdade e..." ou "Cesar, escreva sobre outras coisas mais legais, estes assuntos não te acrescentam em nada, depõem contra você...".
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Sinceramente não acho que meus amigos comentaristas estão errados, se eu não fosse um escrevinhador, possivelmente também faria comentários com este teor sobre um texto como aquele. Mas a verdade é que eu não tive a menor intenção em me promover às custas da desgraça da menina, muito menos pretendi condenar alguém por antecipação, longe de mim isso. A questão é que quem não escreve, não entende que um texto muitas vezes exige ser escrito, se impõe! O espanhol Mario Vargas Llossa explica isso com maestria e precisão no brilhante "Cartas a um jovem escritor". De qualquer forma, não posso afirmar que isso acontece com todos que escrevem, mas acontece comigo. Acontece e então eu não tenho escolha a não ser obedecer: sentar e grafar.
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Pior é que eu não sei fazer mais nada que não seja por escrito; isso virou uma prazerosa, e ao mesmo tempo odiosa, sina em minha vida, um hobby que criou vida e virou um monstro! Tenho que escrever as coisas, não tem jeito. É como se os textos fossem concebidos dentro de mim e antes de eu me dar conta já estão crescendo e não há contraceptivo capaz de impedir-lhes o desenvolvimento. Daí em diante não há mais quem segure a besta; o feto cresce dia a dia me trazendo cólicas, enjôos e dores nas costas; e na hora em que ganha o tamanho e a musculatura necessária, começa a chutar violentamente, aí não há mais nada que eu possa fazer a não ser pari-lo, materializando-o em tortuosas e doloridas letras e garranchos...
Acreditem em mim, é como o bebê de Rosemary, o texto-monstro exige vir à luz!
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Mas esqueçam isso... Não espero mesmo que ninguém me entenda... Vai ver que este foi só mais um texto que eu precisei parir.
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Cesar Cruz
Abril/ 08
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Um comentário:

Anônimo disse...

Parecidos mesmo! Gostei mais do seu do que do meu.

Abraços
Gondim