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Crônica publica na Gazeta do Ipiranga*
Edição 2579 - sexta, 20 de fevereiro de 2009.
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Sabe aquela menina do filme O Exorcista que girava a cabeça pra trás, soltava fumaça pelas ventas, falava grosso e cuspia no padre? Os Reborn Babies, essa espécie de sensação que acometeu os ricos de uns meses para cá, são assim. O quê, minha senhora? A senhora não sabe nem ao menos do que estou falando? Não se aborreça. Eu também, até dia desses, não sabia da existência desses pequenos humanóides. Vou explicar:
São bonecos, ou bebês (sei lá eu) fruto do esforço dos designers em conceber, num rosto artificial, as feições exatas de um bebê de verdade. Fabricados em resina, têm assustadoras curvas e reentrâncias nas faces pálidas, que conferem a esses pequenos seres um quê diabólico. E talvez seja justamente essa tentativa de aproximá-los dos nossos pequenos humanos que os fazem tão assustadores. Que me desculpe quem gosta, mas para mim são uma coisa aterrorizante. Eu não ficaria na companhia de um deles sozinho numa casa, não! Nem a pau. O incrível é que são fabricados com detalhes inimagináveis. Os mais branquinhos têm no rosto até aquelas microveias azuladas dos recém-nascidos.
Você pode estar se perguntando: e isso é brinquedo pra criança? Não. Claro que não. Como você sabe, a diferença entre os adultos e as crianças é justamente o preço dos brinquedos. E os reborn são caríssimos! Chegam a custar dois mil dólares. Há comunidades no Orkut das mamães desses bebês renascidos. Sabe o que elas dizem? "Eles não são liiiindos?" Sim, sim, claro, penso eu, especialmente se for num concurso de bebês mal-assombrados.
Dizem que esses bebês são tratados pelos ricos como crianças reais: passeiam, vão ao supermercado e ao shopping, são ninados no colo etc. Os modelos mais sofisticados têm batimentos cardíacos, emitem calor e até transpiram.
Eu falei em dois mil dólares? Isso sem contabilizar os custos com os apetrechos e complementos necessários à manutenção da saúde, bem-estar e felicidade de qualquer bebê: quarto exclusivo, carrinhos de passeio, berço, cadeirinha para o carro, cadeira para refeição, roupinhas de todo tipo, andador (andador!), brinquedos...
E eu fico aqui, imaginando um desses pequenos bebês renascidos (isso não era o nome de um filme de terror?) habitando um quarto todo decorado numa certa casa. Me arrepio de medo só de imaginá-lo numa de noite, deitado no seu berço chique, com sua cabeça de resina sobre um fofo travesseirinho... Fecho os olhos e vejo-o dormindo, ofegando, com aquela assustadora respiração cibernética; vejo seus cabelinhos sintéticos colados à testa por um suor frio, pegajoso, mineral.
Agora imagine isso: de repente o nosso bebê acorda e abre os olhos no escuro do quarto. Pá! Aqueles olhos indecifráveis vão perscrutando o aposento vazio, semiescurecido, repleto de sombras que desenham inimagináveis espectros nas paredes decoradas com gravuras.
Incautos, papai e mamãe dormem. Sou quase capaz de ouvir ao fundo uma daquelas assustadoras musiquinhas do Poltergeist. Ouço agora a voz fininha de uma criança possuída: “querida mamãezinha, te amo tanto, mamãezinha... Mas você não tem sido uma boa mamãezinha...”
Os papais dormem sem supor que o seu bebê renascido adquiriu, subitamente, um imprevisível sopro de vida e consciência. Agora ele sorri um sorriso satânico, malicioso. Investiga a escuridão e concebe ideias para pôr em prática. Já na manhã seguinte, quando a mamãe se debruçar sobre ele no berço.
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Cesar Cruz
São bonecos, ou bebês (sei lá eu) fruto do esforço dos designers em conceber, num rosto artificial, as feições exatas de um bebê de verdade. Fabricados em resina, têm assustadoras curvas e reentrâncias nas faces pálidas, que conferem a esses pequenos seres um quê diabólico. E talvez seja justamente essa tentativa de aproximá-los dos nossos pequenos humanos que os fazem tão assustadores. Que me desculpe quem gosta, mas para mim são uma coisa aterrorizante. Eu não ficaria na companhia de um deles sozinho numa casa, não! Nem a pau. O incrível é que são fabricados com detalhes inimagináveis. Os mais branquinhos têm no rosto até aquelas microveias azuladas dos recém-nascidos.
Você pode estar se perguntando: e isso é brinquedo pra criança? Não. Claro que não. Como você sabe, a diferença entre os adultos e as crianças é justamente o preço dos brinquedos. E os reborn são caríssimos! Chegam a custar dois mil dólares. Há comunidades no Orkut das mamães desses bebês renascidos. Sabe o que elas dizem? "Eles não são liiiindos?" Sim, sim, claro, penso eu, especialmente se for num concurso de bebês mal-assombrados.
Dizem que esses bebês são tratados pelos ricos como crianças reais: passeiam, vão ao supermercado e ao shopping, são ninados no colo etc. Os modelos mais sofisticados têm batimentos cardíacos, emitem calor e até transpiram.
Eu falei em dois mil dólares? Isso sem contabilizar os custos com os apetrechos e complementos necessários à manutenção da saúde, bem-estar e felicidade de qualquer bebê: quarto exclusivo, carrinhos de passeio, berço, cadeirinha para o carro, cadeira para refeição, roupinhas de todo tipo, andador (andador!), brinquedos...
E eu fico aqui, imaginando um desses pequenos bebês renascidos (isso não era o nome de um filme de terror?) habitando um quarto todo decorado numa certa casa. Me arrepio de medo só de imaginá-lo numa de noite, deitado no seu berço chique, com sua cabeça de resina sobre um fofo travesseirinho... Fecho os olhos e vejo-o dormindo, ofegando, com aquela assustadora respiração cibernética; vejo seus cabelinhos sintéticos colados à testa por um suor frio, pegajoso, mineral.
Agora imagine isso: de repente o nosso bebê acorda e abre os olhos no escuro do quarto. Pá! Aqueles olhos indecifráveis vão perscrutando o aposento vazio, semiescurecido, repleto de sombras que desenham inimagináveis espectros nas paredes decoradas com gravuras.
Incautos, papai e mamãe dormem. Sou quase capaz de ouvir ao fundo uma daquelas assustadoras musiquinhas do Poltergeist. Ouço agora a voz fininha de uma criança possuída: “querida mamãezinha, te amo tanto, mamãezinha... Mas você não tem sido uma boa mamãezinha...”
Os papais dormem sem supor que o seu bebê renascido adquiriu, subitamente, um imprevisível sopro de vida e consciência. Agora ele sorri um sorriso satânico, malicioso. Investiga a escuridão e concebe ideias para pôr em prática. Já na manhã seguinte, quando a mamãe se debruçar sobre ele no berço.
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Cesar Cruz
Fev/ 2009
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*crédito dos parceiros na lateral do blog
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16 comentários:
Falae Cesar,
É, meu amigo, você consegue!
Esses eu não conhecia, mas qual foi a primeira ação ao ler seu texto? Procurar na net, é claro!
E não é que os monstrinhos são mesmo horrendos.
Mas advinha só, como eu disse, você consegue. Bastou alguns minutinhos concentrado vendo as fotos e, subitamente uma pesada pasta cheia de documentos, que eu olhava momentos antes, caiu no chão na calada da noite...baita susto!
Abs,
Marcelo Lopes
Caral*&*, como vc escreve, meu!!!!!!
bjs
Débora
Vade retro, Satanás!
César, excelente crônica! Parabéns. Não só esta como as outras tantas que li aqui em seu blogue e que nos brinda no jornal do bairro. Admiro essa sua habilidade de mimetizar o humor, com a reflexão e com a seriedade. Faz-nos pensar, rir, ter arrepios!
Abraços a você e um beijo para a sua filhinha linda, a Michele.
profª Sueli
Cambuci - SPaulo
xxxxx.xxxxxx@gmail.com
Me fez lembrar do Chuck o boneco assassino! Credo em cruz tres vezes!
abraços, Henrique
CREDO, QUE HORROR ISSO CÉSAR!
BJO
FÁTIMA
Você tem razão. Puta merda! É um horror. Vi no google. O mundo está perdido. Essas pessoas deviam mesmo adotar um gato, mas o egoísmo não permite. Não querem dividir com nem ninguém seu tempo, já que afeto duvido que possuam. Um bebê-monstro é descartável. Que pobreza de espírito.
Gabriel
Fiquei com medo desses humanoides diabólicos!
bjs
Regina
Quer uma explicação? Aqui está: o ser humano é um fútil. Se eu e você aceitássemos isso como parte indelével e inevitável da psique humana, tudo ficaria mais fácil. Mas não menos miserável.
Eu também não aceito que crianças passem fome por aí e essa gente permaneça num mundo de fantasias como esse.
Saudações
Roberto Ernani Junior
(aqui do Ipiranga)
Há tempos queria deixar um comentário sobre seus textos... Gosto mto de como vc escreve, sou capaz de ouvir vc falando qdo leio.
Mas vamos ao texto, acredito que esses "Reborn Babies", são apenas mais uma demonstração de como o ser humano é um ser social q necessita de troca, mesmo q seja imaginario, mas q não se permite a isso, como acontece com essas mulheres q adquirem um desses bonequinhos/ androides. Não sei se podemos reduzir a futilidade, mas acho q podemos nos permitir questionar qual o rumo que estamos dando a nossa sociedade, uma sociedade capitalista em q o ter define o ser, em q mulheres não se permitem estarem grávidas( no sentido mais amplo da palavra - esperar um serzinho - isso inclui, como vc disse a gravidez "tradicional", adoção e até mesmo os bichos), elas apenas se permitem TEREM bebês, bebês esses que são exatamente como elas imaginaram, que nunca crescerão, nunca decepcionarão e se algo der errado pode ser descartado sem o menor remorso, isso tudo num grande faz de conta....
E até qdo vamos viver assim???Cabe a nós mudar....
bjo grande pra vc, pra Van e um especial pra Michele...
Bianca (Libras)
Perdizes
Puxa, Cesar, estou gostando da quantidade e qualidade do feedback que você tem recebido. Sinto até orgulho de ter te ensinado a usar o blog no começo!
Vai fundo Cesinha!
Gordão
Aff Maria!
Que horrorrrrrr!
Imagina, dizem que o homem tem um lado positivo e negativo dentro de si.. Se estas pessoas acham que cuidar desses bebês é um lado positivo. Imagine o que seria o negativo?
Rs
Beijos pra família!
Mara Ruzza
Pela descrição, são o próprio Chuck! Por sinal, nunca assisti; detesto só de ver as inevitáveis chamadas na tevê quando, não se sabe por que cargas dágua, decidem passar esse filme.
Claudio
olá estava vasculhando a net pra ver se alguem tem a mesma opinião q eu e graças a DEUS encontrei tbm concordo com vc havia postado uma materia sobre esses montinhos nossa nem imagina como reagiram esse povo são todos desiquilibrados,da uma olhada nas materias q escrevi pensei q era só eu q era normal q num tava contribuindo pra essa insanidade de moda reborn rsrrssr parabens amigo pelo blog depois qd tiver tempo da uma olhada no meu
fika com DEUS
abraço
http://eddyenessinha.blogspot.com/2009/03/e-chocante-e-triste_11.html
http://eddyenessinha.blogspot.com/2009/05/temos-direito-de-expressar-nosssa.html
Olá,
Caro amigo, concordo plenamente com td q escreveu em meu blog, penso q a internet é uma meio muito eficaz e deve ser usado principalmente para expor nossos princípios, e opiniões.
Obrigada pela força.
Felicidades a vc e sua família,
Feliz conhecidencia o nome de sua esposa rsrsrs
abraço
Vanessa
Eu não achei nada legal esse seu post, porque primeiro eles são feitos por artistas plasticos e é o trabalho deles e cada trabalho deve ser respeitado. Em segundo lugar gosto é igual c* cada um tem o seu, e isso deve ser respeitado tudo bem que voce tem sua opinião mas nao prescisava esculachar tanto. E outra não saia generalizando dizendo que as pessoas que compram bebes reborns saem com eles por ai para qualquer lugar porque conheço pessoas que não sao assim!
Nem todos paparicam os bebes reborn, apenas compram para ficar de enfeite, para mim isso foi um post de uma pessoa TOTALMENTE ignorante que não tem uma visão ampla do mundo, que não respeita o gosto do outro e muito menos o trabalho. E agora comparar o nome Reborn com nomes de filmes? aff me polpe quantos anos você tem ? 12? é o que aparenta, ''¬¬''
Acho que vc demonstra um total desconhecimento da arte reborn ao fazer estes comentários. As pessoas que adotam estes bebês não fazem mal para ninguém, e a maioria delas possui animais e já tiveram filhos de verdade. Não é um hobbie de pessoas ricas, um bebês destes custa mil vezes mais barato do que um carro, que todo mundo tem hoje em dia. Pelo seu comentário, nota-se que vc não gosta muito de bebezinhos, nem dos de verdade.
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