Nasceu o Guilherme, nenê da Yeah e do Marcos, grandes amigos. Contrariando a Teoria do Joelho, nasceu lindo, o safado, igual a mãe e o pai. Mês que vem nascerá o Mariano, nenê do Léo e da Ana. Ainda ontem nasceu o Lucas, fabricado pela Andréia e pelo Tiago, e a Mariah, filha da minha amiga Karla.
Pessoas vão nascendo para preencher o espaço das que morrem. A vida é ciclo, marés. Há quase três anos morreu minha mãe, ano passado morreu a Maria; morreu também o seu Pi, no finalzinho do ano, avô da Vanessa; recentemente a Silvani também se foi, jovem, trinta e poucos anos. Câncer generalizado. Morreu, de repente, jovem também, o Alisson, marido da Jack, amiga blogueira.
Segundo a mitologia grega foram todos levados pelo Caronte, o barqueiro dos mortos (que é velho e magro, mas suficientemente forte e vigoroso para a tarefa), que arrasta os recém-mortos para o outro lado do rio. Pois é... É a morte nos alcançando em plena vida...
A morte é estupidamente cruel com os que ficam; com os que vão não se sabe; supõe-se que não, que os que vão estão muito bem obrigado, lá ao lado direito do Senhor, tranquilos, tocando arpa; mas... quem tem certeza dessas coisas? Vinícius de Moraes, em Samba da Bênção, dizia que só acreditaria se "fosse muito bem provado, com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus. E com firma reconhecida!"
Filosofando, debruçado sobre este balcão de botequim que é o teclado do meu computador, ilustraria a vida do Homem com a metáfora do jarro d’água posto sob a torneira aberta. O vaso é o mundo, sempre cheio de vidas, e a água as vidas humanas, que se sucedem e se alternam dentro dele. Gostou? Pois bem, agora deixemos de filosofia de botequim.
A morte é estupidamente cruel com os que ficam; com os que vão não se sabe; supõe-se que não, que os que vão estão muito bem obrigado, lá ao lado direito do Senhor, tranquilos, tocando arpa; mas... quem tem certeza dessas coisas? Vinícius de Moraes, em Samba da Bênção, dizia que só acreditaria se "fosse muito bem provado, com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus. E com firma reconhecida!"
Filosofando, debruçado sobre este balcão de botequim que é o teclado do meu computador, ilustraria a vida do Homem com a metáfora do jarro d’água posto sob a torneira aberta. O vaso é o mundo, sempre cheio de vidas, e a água as vidas humanas, que se sucedem e se alternam dentro dele. Gostou? Pois bem, agora deixemos de filosofia de botequim.
Estou escrevendo sobre isso porque ontem recebi a orelha do livro pronta, prontinha, elaborada cordial e gentilmente pelo seu Murilo, meu amigo e atento leitor. Veio cheia de constrangedores elogios, que sei que não mereço. Verdadeiramente sei. Caso as pessoas não gostem do livro, pelo menos gostarão da orelha, disso tenho certeza. Oh, que orelha!, dirão.
Seu Murilo foi o primeiro a ler o original de O Homem Suprimido. Em certo momento do texto da orelha, seu Murilo, se referindo a mim, afirma: "...a morte, com seu caráter de surpresa, mistério e irreversibilidade, parece ser o ponto central de sua prosa."
Li aquilo e me surpreendi. Não havia me dado conta de que a morte é o meu tema central. Pensando bem, seu Murilo tem toda a razão: meus contos e crônicas estão cheios dela, a vilã maior, essa bruxa maligna que devora os amigos e a família da gente. Mas o que posso fazer? Todo o escritor tem seu tema recorrente; é o que dizem. Dizem também que o tema recorrente de um escritor não é um simples tema recorrente, inanimado. Não, não. Ele tem vida, persegue o escritor. “Escreva sobre mim, escreva sobre mim!”, aporrinha, na calada da noite, até nos sonhos do escritor, o tema recorrente.
Bem, se isso não tem mesmo jeito, se o tema recorrente atinge até os grandes escritores, o que não fará comigo, pobre de mim? Me consola saber que, pelo menos por enquanto, é só isso que a Morte, meu tema recorrente, deseja de mim: que eu escreva sobre ela. Ufa!
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Cesar Cruz
Abril 2010
Ilustração: O Caronte, desenhado por Paul Gustave Doré, para a Divina Comédia, obra de Dante Alighieri.
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8 comentários:
Oi, César, também penso assim. A morte é o assunto principal para muitos, principalmente para os poetas. Eu entendo o porquê: ela não é só misteriosa como tem a capacidade e ousadia de acabar com nossa vida! Até hoje não sabemos nada sobre ela: quando nos levará, como, e para onde...Por isso dá tanto pano pra manga.
Mário Quintana fala sobre a morte em muitos de seus poemas, chama-a de 'a minha doce prometida'.
Bjs e uma feliz Páscoa para você e seus dois amores.
Tais luso
Não tenho tido muito tempo para escrever. Leio entretanto todos os seus causos: uns alegres, outros tristes, uns engraçados, outros filosóficos...
Então o senhor já está de livro pronto hein? Parabéns! Ótimo, mesmo!
Beijos às suas mulheres.
Da tia, sempre saudosa, esperando a tão lendária visita...
Carolie
Fala Cesão!!!
Realmente é um assunto longo e por mais que falemos nele nao chegamos a conclusão nenhuma, mas como diria o meu irmão "A VIDA É MESMO ASSIM E É O QUE TEM PRA HOJE!!".
feliz pascoa e manda um abraço para as meninas!!!
Manoel
Olá Cesar,
Sei que a coisa mais certa nessa vida é a morte.
Mas morro de medo só de pensar no assunto.
E mais, quando chegar minha hora não vou dar mole não! Se puder pago até propina para ficar.
Pois acho um absurdo uma pessoa tão cheia de vida como eu com sete palmo de terra nos peito.
Vou, sim! mas reclamando pra burro.
Um abraço,
Dalinha
Cesar,
Quanto "a orelha", devo lhe dizer que, deixando minha habitual modéstia à parte, sim, você está certo, aquela orelha ficou mesmo muito boa; mas o mérito é seu, já que seria impossível para mim escrever boa orelha de livro medíocre. Assim como nas feijoadas, a qualidade dos conteúdos faz toda a difrença. Agora resta-nos esperar a noite de autógrafos! Estou ansioso.
Deixando esses assuntos auriculares de lado: sim, a morte é o grande enigma da humanidade, o medo que nos persegue pela vida e que, sem exceção conhecida, um dia nos alcança.
Abraços a você,
Murilo
olá Cesar, antes de mais nada, a de convir que suas amigas parturientes estavam em época fértil a tempos atrás. Quanto a seus escritos sempre constar tema de morte, mesmo que subentendido concordo com o Sr. Murilo, de fato, ela sempre faz sombra sobre seus textos ou Você a persegue de maneira inconsciente talvez, mas tudo bem a morte faz parte da vida. Quanto a não saber a respeito da morte, aí já discordo, por motivo de Doutrina que assumi, mas acima de tudo respeitando a todos e todas opiniões., o mistério a respeito da morte, pois para mim, a prova que Vinicius pediu a respeito do assunto, com todo o exercício do seu direito, é claro, já veio por mais de uma vez. Abraços a Ti, família, e a todos.
xara
ipiranga - sp/sp
Olá Cesar,
Passei por aqui e resolvi ler novamente seu texto.
Desta vezes preferia me encantar com a safra de crianças.
Um abraço,]
Dalinha Catunda
Rio de Janeiro-RJ
Blogue: cantinhodadalinha.blogspot.com
Oi Cesar
Tema recorrente... Não tinha pensado nisso... Será que algum dia terei o meu?
Sou fã de seus textos. Principalmente, dos contos. Tomara que você continue explorando seu tema recorrente, que, pelo que leio em seu blog, faz fascinantemente bem.
Hum... Vi que você lançou (lançará) um livro. Parabéns!
Será que chega nesse finzimdemundo onde Judas perdeu as cuecas que é Assis?
Quero ler! hehe
Bjus
Deva
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