Rim com Bróqui

Publicado no Jornal do Cambuci - Dez 2011

Dia desses, fomos comer uma pizza na casa do Marcão e da Marcela. Papo vai papo vem, o assunto enveredou por aquelas histórias escabrosas, aqueles horrores gastronômicos pelos quais todo mundo já passou nessa vida. Foi contada a história de um macarrão embolorado, que até a última garfada a pessoa achava que o verdinho era do gorgonzola. Depois de um certo estrogonofe, com vocação clara para estrogonervo, e também a respeito de um café frio e doce com gosto de ovo etc e tal.

Daí eu me lembrei de uma boa: um amigo que foi a um restaurante coreano aqui na Liberdade, e tomou a tigela inteira de sopa, numa virada. Era uma exótica sopa fria, contou-me ele, que veio à mesa antes do prato principal. Ele tomou porque achou que fosse igual àquelas sopinhas missoshiro japonesas, só que fria. Mas não era. Era uma solução de detergente e essências, própria para lavar as pontas dos dedos antes de comer. Como se não bastasse, ele por pouco não tomou da coreana, dona do restaurante, uma tigelada na cabeça.

Mas a pior de todas as histórias que ouvimos naquela noite aconteceu com o Marcão, que esteve na França a trabalho, na companhia do pai. Certo dia, após uma visita a um cliente, acabaram todos no restaurante local para o almoço. Os clientes franceses e eles dois.

A história, verídica, segue abaixo nas palavras do próprio Marcão, que teve a paciência de me repetir tudo por email, com exclusividade para os leitores do Jornal do Cambuci:
.
“Cesinha, a história foi assim: meu pai e eu fomos visitar uma empresa na França, em Marselha. Depois da visita fomos convidados para almoçar com os clientes. E eu tive a brilhante ideia de pedir ao anfitrião que escolhesse um prato típico local para nós (Logo eu confirmaria aquela máxima que ensina que não só os peixes morrem pela boca, os idiotas também).


O cara disse o nome do prato em francês e não entendemos, obviamente. Então ele ilustrou, desenhando com o polegar e o indicador uma fatia imaginária na parte baixa das próprias costas. Fiquei na dúvida, mas meu pai, com seu vastíssimo conhecimento de francês, somada à mímica que o homem fazia, garantiu que se tratava de lombo. Maravilha! Lombo é com a gente mesmo, manda prá cá!


Pois bem. Quando chegaram os pedidos, notei que algo estava errado. O prato era composto por um pedaço escuro de carne, da cor de um fígado, uma espécie de gomo com múltiplas secções. Uma coisa asquerosa, tão repugnante que é difícil até explicar. Havia também umas batatas fritas e uma porção de brócolis (bróqui, como dizia uma moça que trabalhou lá em casa).


Cortei o gomo para saber qual era o recheio. Surpresa! O bichão era recheado de sangue e... mijo! Cesar, aquilo era mijo mesmo, legítimo mijo! Assim que o cheiro forte subiu pro meu nariz, caiu a ficha: aquilo era um rim de boi. Cru. Ou quase.


Quando eu vi aquele caldo infernal se espalhando pela parte normal da minha comida, em um movimento ninja que jamais serei capaz de reproduzir, calcei o prato por baixo com uma colher, deixando um ângulo que fez a solução de mijo-sanguinolento represar do outro lado e não atingir o que ainda poderia ser salvo: Algumas batatas e um pouco de brócolis.


O problema é que pegaria mal comer só batata e brócolis, né? Todo mundo olhando... Então, revestido da bendita boa educação que meus pais me deram, enfrentei calado, como um monge hindu, o rim cru cheirando a mijo de boi. Claro que isso só foi possível, pois cada garfada era acompanhada por um bom pedaço de bróqui e uma bela golada de vinho. Já meu pai, que ensina a boa educação mas nem sempre a pratica, empurrou o prato de lado alegando uma forte dor de garganta (que, para sorte dele, ele já vinha reclamando para o pessoal desde o começo do dia).


O que sei, Cesinha, é que, definitivamente, não recomendo Rim com Bróqui pra ninguém!”

Cesar Cruz
Outubro 2008


2 comentários:

Unknown disse...

Cesar,
Nas escolas de cozinheiro, a máxima é que tem que se aprender a cozinhar de tudo, e não apenas aquilo de que se gosta.
Me esforço bastante para segui-la, mas me desculpe, o "Rim com Bróqui" eu vou passar...
Abraços,
Edu Toledo

Anônimo disse...

até arriscaria algo urinoso, desde que feito pela minha sogra, porque a onde ela põe a mão a coisa fica benta...

abraços
xara - ipiranga - sp-sp