Certas Coisas Nunca Mudam

Publicado no Jornal do Cambuci - Março. 2012



Semana passada, um ônibus daqueles duplos, perdeu o controle e passou por cima de um carro na Avenida Vereador José Diniz, aqui em São Paulo, matando os dois ocupantes na hora.

O motorista do ônibus depois explicou: “é que perdi o freio”. Eles sempre dizem isso. A gente quase acredita que perder freios seja uma coisa, assim, comum de acontecer com um veículo. Nunca houve um que disse: “é que eu estava correndo que nem um louco...”.

Vendo a notícia do acidente me lembrei que meu pai, falecido há 21 anos, havia escrito uma carta ao Jornal da Tarde sobre o assunto. Carta que aliás foi publicada, como tantas outras que ele mandou para aquele jornal. Lendo o recorte do jornal que tenho agora em mãos, me dou conta de que certas coisas nunca mudam em nosso país!

É duro constatar que eu, e você aí que me lê, vamos morrer e as coisas por aqui vão continuar exatamente como estão.

Segue a carta que meu velho escreveu há 24 anos para o JT, com título e tudo, cheia de humorada ironia. E que permanece mais atual do que nunca.

Seção: Carta do Leitor

 Os Ônibus Competem, vejam as marcas!

 

Senhores,

é sensacional, num ano tão olímpico, assistirmos ao meeting diário feito pelos ônibus que circulam na avenida Paulista. Se não me falha a cronometragem, o Rio Pequeno está atravessando o trecho Brigadeiro-Augusta em 43'37''851, acompanhado de perto pelo Parque Continental com 43'50'' cravados.

 Em péssima forma vem o pupilo, digo, o veículo da CMTC, que vem fazendo o percurso - raia suja - em 46' e poucos. Agora quem promete mesmo é o Lapa que, na primeira passagem, percorreu o longo percurso em 44'30''!

Diante disso, peço ao JT que avise ao COB - Comitê Olímpico Brasileiro - que considere tais resultados para, quem sabe, enviar diplomas de mérito à CMTC, companhias particulares, autoridades de trânsito e ao Sr. prefeito Jânio Quadros.

 

Aloísio Cruz

SP - Capital 

(Jornal da Tarde - Quinta, 18 de fevereiro de 1988)

Cesar Cruz
Março 2012
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