Depois que fiz quarenta anos, tomei uma decisão. Não
trato mais ninguém por senhor ou senhora. Pronto. E antes que o
leitor solte um indignado "Oooh!", proponho a reflexão: quantas vezes
na juventude não fomos, você e eu, repreendidos com um “Não me chame de senhor,
o senhor está no céu!”? Muitas. Eu mesmo perdi a conta...
Eu, invariavelmente e por anos, para tristeza de muita gente, permaneci firme naquele meu tratamento supostamente respeitoso. Naturalmente, quando somos jovens, não
compreendemos por que aquele senhorzinho diante de nós está fazendo questão de
quebrar a invisível barreira que nos distancia.
Mas é como
diz aquela máxima “Aguardemos pelo maior dos mestres, o Tempo”. Não me
surpreendo que hoje eu entenda cada uma daquelas pessoas que
praticamente me imploraram para não serem chamadas de velhos. Sim, velhos, porque é
isso que o outro sente ao ser chamado de senhor por um jovem: que está desgraçada e irremediavelmente velho. Ele deixou de ser "um igual" a você. É tão somente um velho, para o qual você não tem nem desejos nem interesses de nenhuma espécie. Apenas respeito. Oh, dolorida constatação!
Diante
desse mal social, decidi dar esta alegria aos mais velhos, o que podemos chamar de "o benefício
da juventude enganosa". Defenestrei o tratamento senhor
do meu linguajar. É claro que com quarenta anos se adquire uma segurança que
realmente não se tem aos vinte. Compreendo que para quem é bastante jovem é difícil
quebrar tão sólida barreira cultural.
Fica o meu desafio para os que já passaram pelo menos dos 25. Tente! Você vai se
surpreender com a alegria que verá transparecer no semblante das pessoas mais velhas ao tratá-los por você. É uma alegria impalpável, tênue,
mas que você sentirá presente, pairando ao redor da pessoa.
E se você está aí
pensando "Mas onde fica a educação?", pense que isso não tem lá muito a ver. Lembre-se que é possível ser bem mal-educado tratando uma pessoa
por senhor, doutor, professor, pastor, vossa excelência ou o que quer que seja.
Quem lida com atendentes de telemarketing sabe bem disso. Não resolvem seu
problema, te tratam com descaso, ironia e má-vontade, às vezes beirando a
grosseria e, no fim, numa demonstração da mais pura educação sintética,
perguntam: "Mais algum esclarecimento, senhor?". Ora, vá pro inferno,
meu bem!
Portanto,
mantenha-se cordial, gentil e bem-educado. Capriche na educação, se isso ajudar a compensar a insegurança no início. Ajude aquela senhora a carregar a sacola,
mas diga assim: “Posso ajudar você a carregar isso? Tá pesado, hein?”. Pode apostar, a mulher vai dobrar de tamanho! Ou pela
manhã, quando você encontrar aquele homem de cabelos brancos no elevador,
diga: “Nossa, você viu o que a chuva de ontem fez com a cidade?”
Pratique. Considere que 98% dos muito velhos já se habituaram a ser tratados como idosos, mas do grupo que está na faixa dos 40 aos 65, só 31% está conformado com esta sina.
Se te bater aquela dúvida, pense que será realmente impossível agradar a todos, mas saiba que entre 100 pessoas bem mais velhas do que você, 92,5% preferirão ser tratadas da forma como proponho. Se 7,5 não gostarem, tudo bem! Considere que valerá a pena pelos outros 92,5, que se sentirão intimamente rejuvenescidos e revigorados com esse tratamento, especialmente os ainda não muito velhos.
Se te bater aquela dúvida, pense que será realmente impossível agradar a todos, mas saiba que entre 100 pessoas bem mais velhas do que você, 92,5% preferirão ser tratadas da forma como proponho. Se 7,5 não gostarem, tudo bem! Considere que valerá a pena pelos outros 92,5, que se sentirão intimamente rejuvenescidos e revigorados com esse tratamento, especialmente os ainda não muito velhos.
Certa vez,
quando eu tinha 19 anos e era garçom em um restaurante, perguntei a um cliente
que almoçava todo dia lá (que devia ter uns 70 anos), depois de levar a conta e o
café à sua mesa:
“Gostaria de mais alguma coisa, senhor?”
“Gostaria sim”, ele disse. “...Gostaria que você parasse de me chamar de senhor, isso me deixaria muito contente”.
Cesar Cruz
Março 2013
(Dados numéricos e percentuais, fonte: Instituto Cruz de Estatística, Opinião e Mercado)
3 comentários:
O problema aqui é desativar o automático, pois já respondemos automaticamente ao "senhor", tenho conhecidos(as) de até 94 anos que me recuso a chamar de senhor(as) justamente pela intimidade que já temos, mas o problema, de novo, é o bendito automático, as vezes até queremos, mas o primeiro impulso não permite, mas com um pouco de treino, o você acaba dominando, e também tem outra, por incrível que pareça, mesmo que não se manifestem, tem aqueles que fazem questão do senhor, né não? Quem sabe oportunamente não poderia escrever a respeito do "tio", esse nos parece dá muito mais bafafa que o senhor.
abraços
xara - ipiranga - sp-sp
É, meu amigo Cesar!
Mais um tiro na mosca!
Sei o que é o o que representa ter meus 62 anos.
Sempre tratei por Senhor ou Senhora os mais velhos, aprendi com os meus pais e apesar deles nunca exigirem esse tratamento, usei como parâmetro seus ensinamentos.
Meus filhos sempre me trataram por você.
Noto que quando chamo de sr. ou sra., pessoas de cabelos mais brancos que os meus, algumas delas chegam a olhar de maneira diferente pra mim.
Algumas vezes, quando chamado de senhor, peço a mudança no tratamento, mais para deixar a pessoa a vontade mas confesso que me sinto melhor escutando o "você".
A partir de agora procurarei mudar meu procedimento.
Quero agradecer ao senhor por mais essa lição, você me perdoe, senhor, digo..., você, por tê-lo chamado de senhor. É difícil se acostumar repentinamente com certas mudanças. rsrs
Um grande abraço a você, meu querido amigo.
Heitor
em tempo: achei demais os dados do Instituto Cruz.
Muito bom!!!
Abraços
Olá, meu caro. Acho que, mais uma vez, vou se a voz destoante. Senhor e senhora não tem nada a ver com imposição ou subserviência, mas, sim, com deferência. Tratamos os mais velhos por senhor ou senhora, como se faz em todos os países civilizados do mundo, por deferência e respeito. É como se disséssemos: respeito sua história de vida, respeito sua experiência acumulada, respeito sua sabedoria, que é o que se espera que acompanhe a velhice.
O que há de tão revolucionário em se chamar alguém de você? O “você” nivela todo mundo por baixo. O professor ao aluno, o juiz ao réu, o patrão ao empregado... Certos ritos devem ser preservados ou será a barbárie, do que já temos infinitos exemplos hoje.
As pessoas devem saber se comportar de acordo com o ambiente que frequentam. Junto com o “você” veio a falta de educação, a falta de respeito e a perda de autoridade. As pessoas confundem liberdade com liberalidade. Veja o caos que enfrentarmos hoje nas escolas, onde serventes, inspetores, professores e diretores foram rebaixados a tios e tias. Não há mais distinção entre os lares e as escolas.
Abraço
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