Toda
semana é a mesma coisa. Pulo a segunda só pra dar um refresco mental, aí na
terça, logo no café da manhã, faço a tradicional pergunta pra Vanessa:
–
Amor, quais eventos sociofamiliares-operacionais teremos para o fim de semana?
Adoro
ouvir a resposta, que sempre me traz uma doce, ainda que ilusória, esperança.
–
Nadinha! Não temos nada neste fim de semana, acredita?
Aí
ficamos os dois a comemorar, no melhor estilo me-engana-vida-que-eu-gosto, o fato
de que poderemos descansar, tão somente descansar, no fim de semana que vem lá
ao longe. Delícia das delícias!
A
segunda indagação a respeito do assunto costumo fazer 36 horas depois da
primeira, na noite de quarta, no jantar:
–
Amor, permanecemos com zero-ocorrências de eventos sociofamiliares-operacionais
pro próximo fim de semana?
É
aqui que o sonho começa a se diluir.
–
Bom, temos que fazer supermercado, né, Cesar, que a geladeira só tem ar frio
dentro, e também levar a Michele no parque sábado de manhã, que a gente
prometeu. E não podemos esquecer de dar um pulinho no shopping, coisa
rapidinha, só pra trocar aquela blusinha que não serviu. Ei, não faz essa cara,
ainda dará pra descansar bastante, não podemos reclamar!
E
assim nos satisfazemos, iludidos de que ficará só nisso, e vamos mastigando
sorridentes nosso jantar.
Na
quinta eu nem preciso perguntar, a Vanessa costuma me trazer por conta própria as
novas novidades para o fim de semana.
–
Cesar, a mãe da Aninha, amiguinha da escola da Michele, ligou. Vai fazer uma
festinha no salão de festas do prédio. Temos que ir, tá? Ah, domingo vai ter um
churrasco na casa da Alice, que trabalhou comigo lá na outra empresa, ela faz
questão da gente.
Na
manhã da sexta, enquanto ponho no papel o já extenso cronograma de atividades
do fim de semana, para ver se acho uma brecha para esticar o esqueleto no sofá,
geralmente a Vanessa surge por cima do meu ombro dizendo:
–
Ah, aproveita e escreve aí que o Moacyr vem com a mulher e as crianças aqui no
sábado à noite, estão com muitas saudades da gente!
Escrevo
mais esse compromisso, obediente e resignado.
Diante
da folha corrida de tarefas e eventos, vejo, com entusiasmo, que no sábado
terei um intervalo de 17 minutos à tarde, entre o shopping e a festinha. Faço
uma carinha sorridente ali, com a caneta colorida; mas logo constato que não
poderei dispor daqueles ótimos instantes para descanso, visto que possivelmente
terei de destiná-los ao uso do banheiro. Porém, no domingo, poderei dormir até
as 8h20, o que já é excelente, e no começo da noite de
sábado terei inteiros, só meus, 11 minutos entre o retorno da festinha e a
chegada da família do Moacyr. É quando a Vanessa se aproxima e diz:
–
Ah, já que estaremos no shopping, vou fazer uma escova no cabelo, que não dá
pra ir assim na festa, né? E aproveitando que estaremos lá mesmo, vamos lembrar
de comprar o presentinho da Aninha!
Com
as esperanças definitivamente enterradas, só me resta esperar a segunda chegar
pra descansar do fim de semana. Trabalhando.
Cesar Cruz
Maio 2013
2 comentários:
ah é! quer bater aposta de qual das nossas mulheres arrumam mais eventos sociofamiliares-operacionais? Pra começar a Soraia é professora infantil então imagina a quantas festinhas de aniversários vamos? As vezes até embola (ai vai pra sorteio). De resto temos os amigos e das famílias. Só uma amostra: estou programando com Ela uma visita pendente ou seja, um evento sociofamiliar-operacional ha mais de seis meses. Faz quase 6 meses que estamos de casa nova, acredita Vc que até agora não consegui ficar um dia inteiro em casa? Não sei até agora qual o percurso que o sol faz no decorrer do mesmo. Pois é, aquele buraquinho que infiltra água, e que, pode por a casa a perder, esta lá, so rindo da minha cara fora outros afazeres, descansar? Ahm... só para os eleitos. Bom, vou parar por aqui, não por falta de assunto, senão daqui a pouco o comentário tá maior que seu texto. Na segunda já engato a terceira pra embalar de novo.
Abraços
xara - ipiranga - sp-sp
Nossa! Parece que estou tendo um déjá vu.
Muito bom texto rsrsrsrs.
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