Evalda

Evalda trabalha na lojinha de conveniências que fica dentro do posto de gasolina na esquina de casa. Sempre abasteço o carro lá; e como não se tem muito o que fazer enquanto seu carro é abastecido, entro na lojinha, tomo um expresso e proseio duas palavrinhas com a Evalda, que é uma menina muito quieta. É magra, baixa e tem os cabelos longos e negros, muito bonita.
Às vezes, quando ela está excessivamente quieta e taciturna, provoco-a dizendo: "Olha que vou reclamar com o Zé que você não tá querendo conversar comigo!". Aí ela sorri tímida e prossegue suas tarefas em silêncio.
Zé é o marido dela. É frentista no posto. Soube por ele - em um dia em que ele subia o meu carro no elevador hidráulico para a troca de óleo -, que moram longe, têm uma filhinha pequena e saem as quatro da manhã de casa pra ir trabalhar. Zé é diferente da Evalda, é conversador e sorridente; deve ser pouco mais velho que ela, mas acho que não chega nem aos 30.
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Hora do almoço de hoje: liguei pro Alemão e pedi pra ele vir em casa substituir o chuveiro velho - que pifou ontem a noite, no meio do meu banho - por um novo que comprei.
O Alemão mora perto de casa e é um eletricista-encanador de estirpe. Enquanto foi instalando o chuveiro, foi me contando que a Patrícia, sua filha adolescente, estava feliz porque mudou de emprego e foi trabalhar na lojinha do posto. Comentei: "Ah, na lojinha?, então vai trabalhar junto com a Evalda e o Zé!". O Alemão baixou o alicate do fio de cobre, me olhou e disse: "Não, rapaz... a Evalda morreu, ontem...", "o quê!, como?!", exclamei. Aí ele me contou...
Evalda vinha tendo dores de cabeça constantes e há uma semana teve um desmaio no posto.
O Zé correu com ela pro hospital. Foi internada, sofreu um AVC e teve morte cerebral diagnosticada. Ficou dias nos aparelhos até que os médicos, depois de convencerem o Zé que não tinha mais jeito, a desligaram, ontem.
Hoje o Zé está levando o corpo para o Nordeste, onde será velado e enterrado.
O Zé não come há dias e não sabe o que fazer, parece que vai ficar por lá...
Evalda tinha 26 anos.

Cesar Cruz

Abril/ 08

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5 comentários:

Anônimo disse...

cesar
c tá ficando muito taciturno...provoco-o a escrever contos bem humorados, com finais felizes.lembra do filme o pequeno grande homem, com o dustin hofman? no final, o indião, vergado pela vida, senta em uma pedra e decide morrer...o DH chega então perto dele e o cutuca. o velho índio pergunta: morri? para sua decepção DH o informa q ainda estava vivo.então ele diz: bem, então vamos lá em casa saborear uma boa carne!
VB

13.4.08

Anônimo disse...

Oi Cesinha!
Não gostei desse conto da Evalda...
Ms blz, fico esperando o próximo.
Beijo
Ana Zappi
14.4.08

Anônimo disse...

Oi, já tinha entrado outras vezes mas não sou uma boa bloggueira. Entro pouco e quando entro não deixo comentários, então decidi deixar hoje que estou com 5 minutos na agenda.

Aderei o texto, muito triste, ia perguntar, é verdade?! mas infelizmente é! Vi no outro comentário.

Vou ler também o "Afinal, é conto ou crônica?", e depois te digo se é legal.

Beijos
Lena
16.4.08

Anônimo disse...

Cesinha,
A inquietude dos pensadores em relação a vossa vida e a alheia, traz presentes para aqueles que gostam de ler como eu.
Obrigada pela preocupação com a boa escrita e idéia bacana desse nosso mundinho absurdo!!
Grande beijo
Vanessa Silva
16.4.08

Anônimo disse...

Que triste César!!!!
bjs, Mariana

17.4.08