Alusões e metáforas

Amigo Pedro,

Sensacional a sua postagem Jorge Luis Borges - Conselhos aos escritores. Seguindo sua recomendação, comprei o meu exemplar do Esse Ofício do Verso. E acabei de lê-lo. Tudo, acerca de ensino de qualidade para escritores noviços, me interessa. Ainda mais vindo de Borges. E o livro é estupendo.

Quando Borges joga luz sobre a forma que considera mais adequada de narrar, que é se fazendo simples alusões, me faz concordar plenamente. Eu, em minha modesta experiência como escritor, já aprendi (a trancos e barrancos, diga-se) que querer explicar, querer ser surpreendente em metáforas e figuras de linguagem espetaculares, é pura perda de tempo, puro aborrecimento para quem lê.

As boas e inéditas metáforas surgem sem querer, mas entendo que, como os milagres, são raros, não adianta persegui-los loucamente. Acontecem quando tem de acontecer. Sendo assim, sobra ao escritor a mera alusão, que se mostra, ao fim e ao cabo, uma ferramenta poderosa, no momento em que deixa livre o terreno para a criatividade do leitor. Menos é mais, mas só o tempo ensina que essa simplicidade é a mais eficaz e sofisticada arma dos mestres. Poe e Cortázar também defenderam essa economia.

Quando Borges afirma ter preguiça, e por isso não ter se dedicado aos romances, o entendo perfeitamente. Que bom poder confessar isso aqui, com o aval e a companhia do mestre. Como é difícil e entediante ter de criar recheio para uma história que poderia ser um poderoso conto.

Estou vivendo isso agora que me meti a escrever um romance. Nem sei de fato se vou conseguir... Já estou com saudades do poder de síntese e de impacto de um bom conto; e, como diz Borges, de sua por vezes imprevisível complexidade.

Abraços e obrigado pela dica,
Cesar
Fev. 2011
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