Os Perigos do Rolo Invertido

Publicado no Jornal do Cambuci - Jun 2012

Semana passada recebi a bronca de uma leitora. Dona Adelaide. Ela assinou apenas Adelaide, o “dona” foi por minha conta, supondo que a Adelaide seja uma senhora, já que não é muito comum hoje em dia se encontrar mocinhas com esse nome, pelo menos não aqui em São Paulo, onde as meninas têm preferido se chamar Krislayne, Suélem, Carolayne, Rayenny e por aí vai. Sempre com muitos ipsílons.

Mas como eu ia dizendo, a dona Adelaide leu minha crônica no Jornal do Cambuci e me enviou um email para reclamar das efemeridades que venho escrevendo ultimamente. “Com tanta coisa séria acontecendo no mundo e o senhor só escreve essas besteiras? Francamente!”.

Fiquei pensando a respeito... Poxa, a dona Adelaide tem razão! Com uma crise dessas, as pessoas morrendo de fome na África, se explodindo vivas no Oriente Médio, essa corrupção sem fim aqui no Brasil, o SUS, esse salário que anda pela hora da morte, enfim, e eu desperdiçando este bom espaço escrevendo baboseiras?

Respondi à dona Adelaide prometendo que tratarei de assuntos mais significativos a partir de agora.

E hoje mesmo começo a cumprir a promessa.

Saúde pública, eis meu primeiro grande tema social a ser tratado aqui no nosso jornal!

Começo o artigo com uma pergunta ao cidadão que me lê? Quem está invertendo os rolos de papel higiênico nos nossos banheiros? Sim, porque não é de hoje que tenho observado essa estranha ocorrência no banheiro lá do escritório, fato que já flagrei também lá em casa. Fiz o teste: desinverti o rolo de papel lá no banheiro da firma. Em pouco tempo apareceu invertido novamente. Quem foi? Saí perguntando de mesa em mesa. Ninguém se acusou. Só riram quando perguntei. Estranho.

Como se sabe, um bom e honesto rolo de papel higiênico deve rodar para frente, nunca para trás. Consultando amigos, descobri que a inversão misteriosa dos rolos se trata de algo corriqueiro não só nas firmas como nas casas, o que me faz crer que possa ser uma ação perpetrada por gente infiltrada a mando do Governo ou de facções radicais islâmicas.

E antes que algum leitor se levante para dizer qualquer coisa, alerto: o resultado de se inverter o rolo do papel higiênico pode ser fatal e catastrófico, uma vez que invertido ele inevitavelmente resvalará na parede suja do sanitário (cheia de micróbios e bactérias das gotas de urina e respingos de cocô ali depositados) contaminando o anus, ou os genitais, de um cidadão (ou cidadã) inocente, produzindo uma poderosa infecção que, levada pelas fezes infectadas do novo hospedeiro transmissor, contaminará rios, mares e mananciais, causando uma pandemia que matará milhares, senão milhões de pessoas pelo mundo em questão de dias!

Leitor, verifique e fiscalize, em sua casa e na repartição, você também é responsável. Façamos uma campanha contra o rolo de papel higiênico invertido. Você empresário, instale câmeras em seus banheiros como eu já fiz lá na empresa. Assim, pegaremos de calças curtas esses terroristas e os levaremos aos tribunais, à corte suprema de Haia, à forca, se preciso for!

(E agora, dona Adelaide, melhorou?)



Cesar Cruz
Jun 2012






9 comentários:

Gabriel Fernandes disse...

Putz, cara! Acho que sou obrigado a dar razão à Dona Juçara, Jurema, Alzira, Conceição, Adelaide... Como era mesmo o nome da dona?
Você deveria aproveitar sua penetração na mídia e alertar as pessoas de que quando o papel higiênico desenrola para trás, assim vai também a vida usadora do papel. Talvez isso pudesse ajudá-lo na sua campanha para a utilização adequada do tão útil rolo.
As pessoas que hoje limpam a bunda com jornal, inclusive com o prestigioso Jornal do Cambuci, seguramente em algum período da vida desenrolaram erroneamente o papel. Daí o castigo. Bem feito! Hehe! Abração, meu velho.
Gabriel

Anônimo disse...

É Cesar, pelo jeito não entendeu ou não aprendeu o que a Dona Adelaide quis dizer. Tem assunto mais sério e muito mais "grave" que esse, por exemplo, vê se aprende, não vou mais dar essas dicas heim...: rolo faltante, rolo no fim, rolo molhado, rolo duvidoso, rolo de péssima qualidade, enrolador, rolo compressor etc.

abraços
xara - ipiranga
sp-sp

Anônimo disse...

Prezado Cesar,

Compartilho de sua preocupação e me sinto honrado em participar da militância do movimento PHODA-SE (Papel Higiênico Orientado na Direção Acertada - distrital Sergipe).

Agradeço por sua preocupação social em abordar temas relevantes para nossas vidas, como se reflexões e sorrisos não tivessem sua importância.

Obrigado

G

Henrique Lanes disse...

Cesar, muito oportuno artigo. Dona Adelaide deve ter se orgulhado! Porem, faltou voce tratar sobre o rolo urinado, uma praga que assola os banheiros dos estadios e rodoviarias!

Abco
H L

Renata Viana disse...

Cesar,

Se fosse minha avó, te olharia com uma "bela cara feia". Já eu, estou dando gargalhadas.

Bom dia pra vc, Cesar!

Renata

Clineo K.S. disse...

Ô Cesar, posso dizer que nunca me diverti tanto com um artigo de jornal. Foram gargalhadas de fazer chorar e, como sou da geração da "Da. Adelaide", na falta de papel higiênico sugiro usar as folhas do diário Cambuci e Aclimação.

Valeu

Ricardo Marx disse...

Cesar e amigos do jornal,

Minha ligação com o Jornal do Cambuci é de quase uma vida, já que minha mãe foi colaboradora de vocês por muitos anos, e até eu, enviei matérias malucas sobre a proibição do skate, na época do Jânio Quadros (sim, estou ficando velho).

Recentemente descobri o site do Jornal e fiquei feliz em poder ler a versão online, agora que moro em Carapicuíba, SP!

Li a matéria "Os perigos do rolo invertido" e gostei bastante! Há um tempo atrás, ostei em meu Twitter (@ricardomarx) sobre o assunto, depois de também sofrer do mesmo atentado. Achei fantástica a forma divertida com que o Cesar Cruz nos passou a importância de pensarmos, fazermos e nos divertirmos com as "besteiras" do dia a dia. O mundo, a imprensa e a nossa vida já é demasiadamente dura e sem as brincadeiras, a descontração e o humor, nascem mais rugas, temos mais tumores e somos menos felizes.

Parabéns pelos 31 anos de vida e pelo sucesso!

Grande abraço,

Ricardo Marx

Anônimo disse...

Cesar, sou jovem, mas não sou Rayanne, Suelem e meu nome não tem nenhum ípsilon.
Inadvertidamente li a história da Dna Adelaide.
Nunca imaginei que um rolo invertido causaria tanto descorto e que alguém, além de mim, reparasse nisso.
E por fim descobri que um rolo invertido pode ser assunto de saúde pública! Wow!
Bom, obrigada pela crônica, obrigada pelo bom humor. Animou a minha segunda feira de licença maternidade.
Abraços
Denise Granero - Ipiranga

Thais Petranski disse...

Cesar! Morri de rir com sua crônica! Sou adepta do rolo invertido pq morro de nojo do papel rolando pela parede! HAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAH
Adorei! bjsss