crônica publicada no Jornal do Cambuci
ue as crianças falam coisas incríveis,
isso não é novidade para ninguém, especialmente para quem tem filhos pequenos.
O problema é quando elas dizem coisas que deixam a gente pedestre — no
meio da marginal.
Quando tinha menos de 3 anos, a Thaís, irmã
mais nova da minha mulher, estava no colo dela quando uma dessas senhoras
gordas, toda perfumada e maquiada, se aproximou pra fazer um bilu-bilu:
— Que linda que você é, qual seu nominho?
A Thaís, impressionada com aquele rostão
extravagantemente maquiado tão próximo do seu, devolveu a pergunta, com um dedinho
curioso apontando pro batom da mulher.
— Que-qué isso?
Em vez de explicar, a mulher preferiu demonstrar.
Pegou a mãozinha dela e tascou um beijo vermelho no dorso.
Quando viu aquela marca melosa, em formato
de boca, a Thaís não teve dúvida: esticou de volta a mão pra mulher e ordenou:
— Que nojo! Limpa já!
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No inverno do ano passado, passeávamos numa
certa tarde gelada pelos calçadões de Campos de Jordão, a Vanessa, eu e a
Michele (3 anos na época), quando fomos abordados por uma senhora bem velhinha
e miúda, enrolada nos ombros e ao redor da cabeça com um echarpe preto. Ela queria
saber se sabíamos informar onde ficava certo local. Antes que pudéssemos
responder qualquer coisa, a Michele se pôs a gritar, desesperada, apontando pra
mulher e tentando se esconder atrás da gente: “Uma bruxa, mamãe, uma bruxa!”.
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A Michele adora identificar, em locais
públicos, os gordos, os feios, os defeituosos e toda sorte de gente que ela
considere, de alguma forma, esquisita ou digna de comentário. Claro, sempre aos
berros de “Papai, papai, olha ali!”.
Ela também se transformou numa especialista
em comentar assuntos íntimos perto de desconhecidos. Ontem à noite saímos de
casa para ir ao supermercado. Ela estava quietinha no elevador, até que paramos
no terceiro andar e entrou uma moça que nos cumprimentou e ficou ali, no canto
dela, sem dizer nada. Então a Michele me olhou e disse: “Papai, sabe aquela
hora que eu te chamei e que você tava fazendo cocô?”.
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Semana passada, meu amigo G., pai da Duda
(3 anos), conversava com uma mulher, frente a frente, com a
Duda sentada no seu colo, também de frente para a interlocutora. De repente a
Duda começou a fazer um esforço enorme para se desvirar no colo do G., como se
quisesse falar algo pra ele.
— Que foi, Duda?
Depois de se contorcer a ponto de ficar
nariz a nariz com o pai, ela o segurou pelo rosto com as duas mãos e, com os olhos
arregalados, um ar de desespero, disse — dando espiadinhas desconfiadas para a
mulher por cima do ombro:
— Pai, eu não estou gostando nadinha dessa
pessoa aí atrás.
Pois é... E quem não passou por isso, que
atire a primeira boneca!
Cesar Cruz
Julho 2012
4 comentários:
É, meu amigo Cesar, eu com duas filhas já passei por cada calça justa que daria um livro de piadas de humor negro. A pergunta sempre era a mesma? "menina quem lhe ensinou isso?" rsrs
Abração, meu caro.
Não, Cesar, não tape a boca das crianças, tape a dos adultos!!! Esses sim fazem mal, crianças são verdadeiras. E o que dizem não causam grandes estragos!rsrs
Beijos, amigo.
Tais
a do cocô chorei... se fosse eu, juro, responderia mais alto que ela, "sabe filha aquela hora que eu estava fazendo COCÔ...", mas essas situações são tão interessantes que até hoje procuro um livro que fale só disso ou, quem sabe lançarmos um né não?
quem aprontava muitas dessas era minha sobrinha Mariana, hoje com 27 anos, aquelas dignas de quase confusão séria...rs, as vezes relembramos. Do meu filho não, geralmente eram particulares, mas muito engraçadas também, muito bom.
abraços
xara - ipiranga - sp-sp
oi cesar!!!
tudo bem?
rs..gostei dessa!
entao eu vou completar com minha experiencia, um pouco mais serena....eu subi a conde de iraja , rumo ao pastorinho, com minha priminha, maria fernanda, de 7 anos, passando as ferias em sp (ela mora no interior de sp). era de manha, e iamos no mercado comprar pao etc....
ela segurava minha mao e eu ia falando umas coisas ja para incentivar ela a me ajudar escolher coisas saudaveis no mercado, quando eu ouço "bom diiiiiiiiiiia!". era ela dando bom dia para uma senhora que passou por nos.
eu parei de falar e sorri pra ela e pra senhora. e dai para todos que passavam por nos, ela olhava nos olhos da pessoa e dizia sorrindo e meio alto "bom diiiiiia!!..
rs...as pessoas reagiam de varias formas, umas sorriam, respondiam, outras nao falavam anda, outras nem a olhavam...
bah..pessoas....
bjs.
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