Sempre nos dias que antecedem o lançamento de um
livro meu, começo a ter sonhos terríveis. Nesta noite tive dois. No primeiro
deles, estou sentado atrás da mesa de autógrafos no dia do coquetel do
lançamento de A Invasão dos Horácios.
Estou só, de caneta na mão, aguardando pateticamente as pessoas chegarem à
livraria, mas ninguém aparece. Então vejo, através da vidraça que dá para a
calçada, o céu enegrecer de repente e o dia virar noite. As pessoas correm na rua
com revistas sobre a cabeça, e aí desaba uma violenta tempestade, com raios e
trovoadas retumbantes.
O vento arrasta sacos plásticos, lixo da rua e
folhas de árvores livraria adentro. As portas de vidro que dão pra calçada
são fechadas pelos seguranças. Logo as pedras de granizo começam a desabar do
céu e ricochetear na calçada, batendo nas vidraças com violência. É quando
eles decidem baixar também as portas de aço. Vejo-as se desenrolarem até o chão
e serem travadas com aqueles tambores cilíndricos de latão.
Fico ali dentro, sentado à mesa, completamente sozinho.
Acendem uma luz fraca, amarela. Na penumbra, fico ouvindo o barulho da
tempestade lá fora. Dou um tranco de susto quando alguém põe a mão no meu
ombro. Me viro e dou com o gerente da Livraria da Vila, que no meu sonho é
um sujeito de bigode fino, estilo sambista dos anos 50. Ele usa uma camisa aberta
no peito, de manga curta, daquelas que tem um bolsinho especialmente feito pra
se colocar os documentos e um pente seboso, amarrado por um elástico.
– Meu querido – ele diz, em tom autoritário – Por
total falta de condições seu lançamento está encerrado. Pode ir embora.
Quero argumentar com aquele detestável ser que me
chama de meu querido, mas a minha voz
não sai. Só tenho tempo de vê-lo sumindo por entre as prateleiras de livros que
avançam e desaparecem num denso nevoeiro. Tudo escurece e eu acordo.
No segundo pesadelo, estou com o livro nas
mãos, recém-saído da gráfica. Quando abro, percebo que além do corte da página
ter ficado torto, a impressão está completamente apagada. Com muito esforço dá
para se ler um trecho ou outro. De repente troca a cena e agora estou de
frente para um gordo de cabelos grisalhos que, com um palito no canto
da boca, me olha, desinteressadamente. Ele é o dono da editora, no sonho eu
sei. Estou mostrando o problema a ele, derrotado.
– É... – ele murmura, rolando o palito
pro lado oposto do beiço – Às vezes sai meio apagado mesmo, mas dá pra ler.
Num afluxo da mais pura ira, tento mover os meus
braços para agarrá-lo pelo pescoço, mas estou paralisado, como um homem mergulhado
numa densa geleia. Grito, mas não sai som, minha boca parece grudada como
naquele filme, Matrix. O gordo gargalha com o palito incrivelmente equilibrado
na boca aberta. É quando o livro cai da minha mão, em câmera lenta, e acaba numa
poça de lama.
Cesar Cruz
Out 2013
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O coquetel de lançamento de “A Invasão dos
Horácios”, será no dia 19 de outubro - sábado - Livraria da Vila - Al. Lorena,
1731 - São Paulo/SP - das 16h às 19h.
Estão todos
convidados!
2 comentários:
Caramba meu, seria Horácio o nome dos donos dessas editoras? Você ainda prevê mais uma semana de pesadelos até chegar a data? Acalma seu coração, paz amigo, paz...
Calma, meu caro, assim você vai ter um infarto. Vai correr tudo bem, como das outras vezes. Boa sorte.
Abraço.
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