Saudades do velho Guarujá


(Republico este texto, de dez. 2009, em homenagem ao meu saudoso amigo André Whitaker Salles, falecido hoje, 15 de junho de 2014, e com quem passei boas histórias no Guarujá. Uma delas, muito importante, contada aqui. Victor, dessa você não sabia! abços)

Escrevo aqui do Guarujá, da praia da Enseada. Estou aqui, folgadão, usufruindo dos mimos de um casal de amigos que sempre me paparicam. Desta vez, me emprestaram sua sensacional casa de veraneio, para dez dias de sol e pernas para o ar.

Havia quase trinta anos que eu não passava um bom período no meu velho Guarujá. Digo isso, assim, com essa posse toda, pois desde que nasci até eu ter onze anos, tivemos apartamento aqui. Sendo assim, na minha cabeça, o Guarujá é meu por direito.

O apêzinho que tínhamos era no terceiro andar de um prédio de pastilhas brancas, na praia das Pitangueiras, pertinho de onde ainda hoje está o supermercado Pão de Açúcar e o centrinho, com suas galerias e calçadões.

Em 1980, quando a Rede Tupi faliu, meu pai, que era diretor de propaganda, faliu junto. Um dos primeiros bens que tivemos que nos desfazer foi o apartamento do Guarujá. Desde então, nunca mais passei mais do que três dias nestas belas praias. A adolescência chegou, e com ela as idas a outras praias, ao litoral norte, em carros lotados de amigos, som alto e muito álcool. Caraguá e Ubatuba eram as praias da moçada, Peruíbe também era boa pedida. Depois dos vinte, voltei algumas vezes para cá, em chegadas esporádicas.

Agora que estou podendo curtir esses dias calmos nesta ilha, pude ver quanta diferença há deste Guarujá para o dos anos setenta, da minha infância. Lembro-me que na época eu e minha mãe ficávamos aqui os dois meses das minhas férias escolares, no bem-bom. Meu pai descia a serra nos fins de semana para ficar conosco, e domingo subia de volta para São Paulo, para enfrentar o batente da semana.

Então esses dias por aqui têm tido sabor de reencontro. Trinta anos depois, aquele garotinho que a mãe passava Hipoglós no rosto, que enterrava o papai na areia da praia e que surfava de camiseta na prancha de isopor, para não assar o peito, não existe mais. Tudo muda o tempo todo no mundo, como ensinou o Lulu Santos. Mudei eu e mudou ele, o Guarujá.

Além de me estender sob o Sol escaldante, andei dando umas voltas pela cidade, observando-a com olhos críticos, um tanto cheios de mágoa. Esses olhos aborrecidos, que culpam esta cidade por um abandono e uma distância da qual ela não tem culpa, logo se rendem às saudades e ao amor, que estavam escondidos no meu coração.

Ontem, nublou e choveu na cidade toda. Dia ruim para ir à praia. Peguei a Vanessa e a Michele e fomos fazer outro programa: atravessar a cidade de ponta a ponta, do Perequê ao Guaiúba. Começamos por Perequê, que é a última praia antes da balsa que leva a Bertioga.

Perequê é uma espécie de vila de pescadores. Lá quase nada mudou. Vi um cenário idêntico ao das minhas memórias infantis. De um lado está a praia, bem curtinha, de areias escuras e repleta de aves de rapina e barcos pesqueiros, antigos e pequenos. Alguns espalhados pela areia e outros na água, bem próximos à praia. Do outro lado da estreita rua de mão dupla estão as barraquinhas de peixes e uns poucos restaurantes, de fachadas e ambientes despojados. Paramos para comprar alguns peixes na Barraca da Dona Alba. Enquanto limpava os peixes, dona Alba me contou que, de mudanças reais por ali, nos últimos trinta anos, ela só viu a chegada da água encanada e o calçamento de cimento, que substituiu o chão de areia sob as barracas. De fato, todo o resto permanece igual. O entorno continua paupérrimo, cheio de favelas.

Seguindo a dica que dona Alba nos deu, acabamos almoçando no simples e ótimo restaurante Cosme & Damião, depois seguimos em direção à próxima parada, a praia de Pernambuco.

Pernambuco é uma praia de ricos. É o bairro nobre do Guarujá. Ali não se podem construir prédios. Só há casas, lindas casas, a maioria térreas, erguidas no período áureo de Pernambuco: o começo dos anos oitenta. Violentando a legislação das edificações térreas, foi construído um complexo que inclui shopping, hotel e salas para eventos e convenções. Coisa do Silvio Santos, segundo me disse uma moradora, que tem um comércio no centrinho das Pitangueiras. Salvo isso, de resto tudo permanece como antes, muito residencial.

Da praia se avista uma configuração de morros muito peculiar, que fecha de forma incomum a praia, fazendo com que as ondas venham de lados quase opostos e se encontrem numa espécie de trombada diagonal. Chamam o fenômeno de “O mar casado”. Outra peculiaridade é que em Pernambuco não se veem aquelas centenas de guarda-sóis espetados, ambulantes, quiosques, etc. A praia de Pernambuco é uma praia sempre vazia.

A última vez que eu estive lá foi no verão de 1993. Fui com meu amigo André. Era um feriado de três dias. Como nenhum outro amigo pode ir com a gente, ficamos apenas os dois, na maior mordomia, na bela casa de três suítes, emprestada por uma tia rica dele.
Solteiraços, no auge dos 22 anos, fomos para lá com o objetivo primordial de “ganhar mulher”. Me atire pedras o jovem que nunca fez isso!

Para ser bem sincero, eu não ganhei mulher nenhuma naquela ocasião, mas o André sim... Bem, na verdade a mulher que ele ganhou fui eu que ganhei pra ele, na base da encomenda... Explico.

Era o nosso segundo dia por lá. Já havíamos curtido praia durante o dia e agora estávamos no calçadão das Pitangueiras, sobre um deck de madeira que separava a praia da avenida (esse deck não existe mais, recolocaram em seu lugar aqueles ladrilhos hidráulicos, modelo tradicional no litoral, que desenham ondas em preto e branco) e ficava um pouco elevado da rua.

Onze da noite, começo da agitação juvenil. O calçadão lotado, os carros passando colados, lentamente dado o trânsito, todos com o som alto. Os olhares sendo trocados entre pedestres e o pessoal dos carros, a brisa morna do mar batendo gostosa, as peles ardidas, quentes, depois de um dia de sol, os hormônios em ebulição.

Então estávamos lá, eu e o André, fazendo como todos: ares de que nada era com a gente, que estávamos ali por acaso. De repente, vindo ao longe, duas beldades se aproximavam, naquele passo bonito de mulher que sabe andar. Uma era grandona, loira, robusta, estilo alemã, bem ao gosto do André. A outra pequena, baixinha, de cabelinho preto longo preso num rabo de cavalo. “A baixinha é minha!”, lembro-me de ter dito pro André. Ele nem piscava, os olhões pregados na loira. “Então vai lá, Cesinha, ganha elas pra gente!” – ele me pediu, mas nem precisava pedir.

Posicionamo-nos de forma a fechar a passagem delas. Não havia por onde escapar, a não ser que elas saltassem para a areia ou para o meio da rua, o que era improvável, afinal, não éramos assim tão feios.

Logo que se aproximaram, fui logo me adiantando e puxando conversa. A grandona se chamava Solange e a baixinha não me lembro – não teve seu nome gravado nos registros históricos, logo se verá por quê.

O André ficou ligeiramente distante, como se ele fosse uma figura ilustre, um artista de cinema, aguardando que eu resolvesse tudo pra gente. Essa era uma estratégia nossa. Continuei falando com a grandona: “...então, Solange, meu amigo, André, ali ó, está louco pra te conhecer!” – e apontei pro André, que se aproximou. Os dois atracaram no papo, na mesma hora.

Em seguida puxei a baixinha de lado, que se mostrou absolutamente desinteressada em mim. Um caso típico de antipatia à primeira vista. Ela disse algo pra loira e se mandou, sozinha, sem se despedir de mim. Fiquei ali, segurando vela, como dizíamos na época. Sentei-me no banco mais próximo e permaneci, por alguns minutos, observando de longe a conversa do André e da loira.

A minha ideia era ficar enrolando por ali, porque achei que ele fosse pegar o telefone dela e se despedir, e que partiríamos para outras abordagens. Nada disso. Eles pareciam ter muito o que conversar... Meia hora depois, quando ficou claro que aquilo não teria fim tão cedo, fui-me embora também sem me despedir, até porque estava na cara que eles nem estavam se dando conta da minha existência.

Naquela noite o André não apareceu para dormir. Dia seguinte, lá pelas 9h da manhã, enquanto eu, ainda sonolento, fuçava o refrigerador da tia dele à busca de comestíveis, ele adentrou a casa me matando de susto, gritando, numa euforia louca, me agradecendo: “Cesinha, Cesinha! Puta merda, cara! Estou apaixonado, a mina é o máximo, vou me casar! Valeu, valeu!”.

E foi assim que casei meu amigo André. Pela primeira vez.

O casamento, no qual eu o Léo e o PJ estivemos presentes, não durou muito, infelizmente, mas depois dessa ninguém poderá me dizer que amor de praia não sobe a serra. Culpa minha e do Guarujá, esta terra afrodisíaca! Aliás, nada me tira da cabeça que a concepção daquele jovem rapaz, filho dos dois, chamado Victor, que hoje tem uns 16 anos, ocorreu naquela mesma noite, num canto escuro qualquer das Pitangueiras, enquanto eu dormia na casa da tia do André. O André nega, veementemente.

Voltemos ao roteiro das praias.

Depois de Pernambuco vem a Enseada, depois as Pitangueiras, separadas entre si pelo Morro do Maluf. O Morro do Maluf, que no topo tinha um lindo restaurante-mirante na época em que eu era menino, já não é mais o mesmo. Fui lá conferir. Lá em cima as coisas andam abandonadas. O restaurante não existe mais. Há agora um tipo de comércio esquisito por lá, uma espécie de salão para festas infantis decadente, ou algo assim, mas nesta semana, nas duas vezes em que fui lá, o salão estava fechado. Acho que faliu. O entorno está todo cheio de mato. Ergueram um horripilante muro num dos lados, acabando com a vista.

Lembro-me de como tudo era belo por lá, quando eu tinha cinco, seis anos... A entrada do restaurante, por exemplo, era belíssima. Toda gramada, era cortada por uma bem cuidada passagem de pedestres, forrada por pequenos seixos de rio e fechada em ambos os lados por uma delicada e ornamental cerca de madeira branca, bem baixinha. No gramado ao lado da cerca, havia uma enorme pedra marrom, semelhante a um seixo gigante, do tamanho de um automóvel, lisa, chata, baixa, suavemente arredondada. Um irresistível convite para as fotografias familiares. Fecho os olhos e a vejo. Uma pedra linda! Diziam que era nativa. Tenho fotos sentado sobre ela, uma no colo do meu pai, em 1975. Deveria ser um dia de frio, pois estamos os dois de calças compridas, modelo boca de sino! E cadê a pedra? Sumiram com a pedra. Acabaram com a beleza do Morro do Maluf.

Os prédios na orla das Pitangueiras, de arquitetura típica dos anos 1950, com suas enormes colunas cilíndricas ou em grandes vês a lhe sustentar a carga, e que já estavam por lá havia anos quando eu ainda era menino, ainda permanecem belos, mantendo seu charme. Vindo das Astúrias para as Pitangueiras vamos vendo-os à nossa esquerda, misturados aos mais novos, com grandes sacadas envidraçadas e muito alumínio. Passando de carro, concluo que gosto mesmo é dos antigos, estilo retrô, é verdade, mas que agrada mais ao meu olhar saudoso. Como em muitas cidades, a arquitetura antiga convive bem com a contemporânea. Tudo em paz.

O charmoso centrinho das Pitangueiras, com seus fliperamas, seus barzinhos, as saudosas sorveterias Caramba (que deu lugar às insossas sorveterias da Nestlé), que atraia multidões de jovens notívagos, hoje está bem mudado. Os fliperamas sumiram por completo, e a multidão de jovens hoje tem ao seu dispor muitas outras atrações: shoppings centers, redes de fast food, lan houses, restaurantes, barzinhos fechados, supermercados 24h...

Ainda nas Pitangueiras, na Rua Leomil, está a velha Maria Fumaça em seu aquário de vidro, uma das boas lembranças da minha infância no Guarujá, intacta até hoje.

Gostei também de rever os pequenos quiosques de madeira e palha, no meio da areia da Enseada. Ficam bem na frente do Delphin Hotel. Ali também tenho outra bonita foto. Nela apareço na areia, entre os quiosques, pedalando meu triciclo bolão (modelo de triciclo que nunca mais vi; tinha as rodas em formato de grandes bolas).
Os coqueiros que tomavam conta de toda a orla da Enseada, e que ficavam cravados sempre no início da faixa de areia, distanciados cerca de dez metros entre si, não parecem ser mais os mesmos. Os da minha infância eram enormes, exuberantes, de caules grossos... Esses de agora parecem baixos demais, mais magrelos. “Foram trocados!” - protestei com a Vanessa, que me explicou isto: “Isso é normal, amor. A gente cresce e fica achando que as coisas encolheram”.

No final da orla da Enseada, há agora um condomínio chamado Tortuga. Estranhei. Peraí, Tortuga não era um clube de ricaços, que ficava bem ali, ou talvez ali pertinho?

Ainda ali, no fim da Enseada, havia um restaurante de frutos do mar, que não me lembro como se chamava, mas me lembro muito bem que na frente dele ficava, encravada na grama, uma enorme hélice de navio (de transatlântico, dizia meu pai). A peça era monumental. Deveria pesar muitas toneladas e ter cerca de três metros de altura (segundo aquela teoria da Vanessa, talvez fosse bem menor...). E eu sempre entrava no restaurante chorando, pois queria mesmo era ficar lá fora, vendo a hélice enquanto os adultos comiam. Não me deixavam. Os adultos não entendem mesmo as crianças. Eu só queria poder analisar longamente as conchas e crustáceos que, junto com a ferrugem, habitavam, incrustados, a enorme peça. Fascinante.

Hoje, no local onde ficava o restaurante, há um comércio de artigos náuticos. Para onde teriam levado a hélice de transatlântico da minha infância?

Uma mudança nítida na Enseada é a quantidade de ruas asfaltadas. Há trinta anos, a maioria das ruas era de terra batida. As que saíam da D. Pedro I, a avenida paralela à rua da praia, eram todas de terra. Todas. Agora estão quase todas asfaltadas, e bem iluminadas.

Infelizmente, algumas coisas que deveriam mudar não mudaram. Os canais que rasgam as ruas e despejam vergonhosamente na praia suas águas escuras, que mancham a areia e causam arrepios na gente, continuam espalhados pelo Guarujá inteiro. Até em Santos e Praia Grande já fizeram emissários submarinos, mas por aqui não. Um amigo garante que só lançam na praia as águas das chuvas. Tenho minha dúvidas.

A praia das Astúrias, que vem depois das Pitangueiras, sempre foi a preferida da minha mãe. O sonho dela era vender o nosso apê nas Pitangueiras e comprar um lá, de frente pro mar. Os acasos e intempéries da vida não permitiram.

Mas minha mãe tinha mesmo razão, e visão. A praia das Astúrias era e é uma beleza. Pequena, bem menor que as Pitangueiras, hoje tem os mais incríveis prédios da cidade, debruçados sobre o mar. Por falar em debruçado, o pequeno morro que separa as Astúrias das Pitangueiras abriga duas obras-primas da engenharia e da arquitetura dos anos 1960. Uma delas é o edifício Sobre-as-Ondas (escrito assim mesmo, com hífens, pode ir lá conferir na portaria), que está cravado naquelas rochas e faz justiça ao nome que carrega. A outra é uma casa particular, de arquitetura moderna, que fica exatamente ao lado do prédio. O destaque é o enorme janelão curvo, panorâmico, que parece tomar toda a frente da casa, e que pende, num incrível balanço, sobre os rochedos e as ondas que ali arrebentam. Gregori Warshavchik, arquiteto ucraniano, foi quem projetou nos anos 1950 ambos, a casa e o prédio. A casa tem até nome: Casa da Pedra. Gostaria de saber muito mais sobre essa história. Dizem que a casa foi de muita gente bacana, empresários conhecidos; dizem, inclusive, que tem passado de mão em mão nos últimos anos. Parece que há fila de espera para comprá-la.

A praia seguinte é a do Tombo, que não condiz em nada com as memórias que tenho dela. Lembro de uma praia de águas nervosas, quase sem faixa de areia, sob um eterno céu nublado, muito escuro, com as ondas arrebentando contra sua grande muralha de pedras. Um cenário quase apocalíptico, acho que produzido por coisas que meu pai me disse sobre os perigos daquela praia, que teria afogado, segundo ele, os melhores e mais experientes nadadores, levando-os para seus abissais buracos.

Hoje ganhei uma nova e ensolarada imagem do Tombo. Trata-se de uma praia ainda menor que a das Astúrias, com prédios novos e vistosos, além de mansões de altíssimo padrão, postadas de frente para o mar. Realmente o mar é um pouco mais agitado que o das demais praias; bom para o surfe. Mas nem tudo é ilusão da minha meninice, há mesmo uma muralha que separa o calçadão da areia da praia, que fica há alguns metros abaixo do nível da rua. Para acessar a areia há escadões de madeira ao longo de toda a orla.

A última do circuito é a praia do Guaiúba, a que mais se assemelha às praias do litoral norte de São Paulo. Pequena, fechada entre dois morros ricos em vegetação, mas que ainda não sofreram exploração imobiliária em suas encostas. É uma praia meio que escondida, íntima. Defronte ao calçadão havia uma praça com coreto, os carros podiam fazer a volta ao seu redor. O entorno era gramado e tinha algumas entradas diagonais para que os veículos pudessem estacionar. Era assim na última vez que eu estive lá, uns quinze anos atrás. Mudou bastante. O coreto sumiu, assim como as vagas em diagonal. O pior, fecharam a praia. Fui surpreendido por uma portaria com guarita e guarda. Lá agora só entram carros de donos de casas que fiquem do limite para dentro. Agora os forasteiros têm que parar o carro em ruas mais distantes e chegar a pé, se quiserem usufruir das areias da Guaiúba.

Domingo vou-me embora, já com saudades. Subirei a serra para voltar ao batente. Usarei a velha balsa, o ferret boat paulista, que faz a travessia Santos-Guarujá. Estou com saudades das espetaculares queijadinhas que eram vendidas na fila da balsa, por dezenas de tias gordas que as carregavam em suas cestas de vime, cobertas por paninhos rendados. Eram tão deliciosas, que comíamos um monte delas enquanto esperávamos a fila andar, e ainda levávamos umas tantas pra São Paulo. As melhores queijadinhas que já comi em toda a minha vida.

Tomara que, trinta anos depois, as tias gordas ainda estejam lá com suas queijadinhas, resistindo ao tempo, como fizeram as baratas d’água, que vi, exatamente como quando eu era criança, surgirem às centenas no meio dos rochedos.

Tomara que tenham sobrado, como fragmentos de um tempo, como fizeram os quiosques de madeira da enseada, como fez o Sobre-As-Ondas, como a Maria Fumaça da rua Leomil, o carrinho de churros do calçadão...

Tomara que as tias gordas com suas queijadinhas não tenham sumido, como sumiu a hélice do transatlântico, como sumiu a pedra do Morro do Maluf, como sumiu as sorveterias Caramba, o Tortuga Club, o coreto do Guaiuba, a Hipoglós no nariz das crianças... Só vou saber isso daqui a uns dias, quando voltar para São Paulo.


Cesar Cruz

Dezembro 2009


*As tias gordas e as queijadinhas, infelizmente, sumiram também.


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