Comentário: tatuagem, coisa do demônio?

Caro E......,

Que loucura essas fotos, hein?

Não sei se você sabe, mas sou tatuado. Assim, me sinto de certa forma impelido a emitir a minha opinião a cerca do seu email abaixo.

Para mim, a tatuagem é uma forma de arte, assim como há muitas mais formas de manifestação artística que usam como base o corpo do homem. Algumas, não há como negar, são mesmo de grande mau-gosto. É o caso da maioria dessas que você enviou. Contudo, quando eu vejo alguém que fez do seu próprio corpo uma exposição de horrores, e na minha mente surgem os mais diversos questionamentos e opiniões, logo penso "e ele com isso?". E aí me lembro que as opiniões são mesmo como os umbigos, todos têm...

Pessoalmente, acredito que em tudo o que homem faça com seu próprio corpo deve procurar um ponto de equilíbrio entre saúde, satisfação estética e impacto social. 

Mas voltando às tatuagens, quero te dizer que conheço verdadeiros artistas, e já vi tatuagens absolutamente espetaculares. E também como já vi algumas muito ruins.

Em relação à sua opinião, de que o corpo do homem seria o templo do Espírito de Deus (afirmação que segundo você teria base bíblica - o que a meu ver é bem relativo, considerando que há não uma, mas mil formas de se interpretar as passagens bíblicas), tenho que discordar. Para mim, o corpo humano não é nada além de pó (base bíblica também, certo?), já que o nosso corpo, pobre dele, vai minguar, mais tempo menos tempo, até que retorne ao pó que o originou. A verdadeira morada no Espírito, no meu entender, é o coração do homem, isso sim.

Aí vão as fotos da minha tatuagem.

http://www.fotolog.com.br/mauricio_gelfuso/50068213


Trata-se de uma clássica tatuagem japonesa, uma Wabori. Os japoneses fazem Waboris há mais de 3000 mil anos. Pura expressão da sua arte e de sua cultura milenar. São representações plásticas de suas tradições.

Essa minha, por exemplo, é uma das mais tradicionais. Reproduz a lenda da carpa que, ao lutar bravamente para subir o caudaloso Rio Amarelo (um rio mitológico, que representa a evolução da vida do homem. Repare que há flores, ondas, vegetação, desafios), pode morrer.

Caso não morra, ao chegar à foz, se transformará num guerreiro, pronto para a vida fora da própria vida. Mitologia pura, mesclada à beleza poética e uma dose de verdade existencialista. Pense: é a luta do homem para crescer como ser humano e que, no fim do percurso, quando morrer, ganhará um outro mundo, melhor que este; mas, para que consiga o intento, terá que lutar para se superar e ser um ser humano melhor, senão sucumbirá antes.

Bonito, não acha? Parece com algo que conhecemos?

Abraços,


(Abril 2009)



Nota: O amigo E., a quem me dirijo acima, enviou um email a um grupo de amigos e a mim, sobre tatuagens bizarras, tatuagens com mutilações, orelhas cortadas, línguas partidas, chifres de diabo "aplicados" em testas, etc. Além de enviar as fotos, E., sutilmente, se posicionou contra as tatuagens, alegando que são contrárias à boa prática cristã. Me senti obrigado a me manifestar a ele e a todos os copiados no email, já que sou, eu mesmo, dono de grandes tatuagens.