A paisagem

.
Crônica publicada na Rádio CBN no programa: "Conte sua história de São Paulo", em jan de 2007.
(Ouça o áudio na voz de Mílton Jung, e com produção especial! Junto ao logo do blogue do Mílton Jung, na barra à direita)
.
.
---------------------------------------------
.
Vista à distância a cena era bucólica, enternecedora. Pescadores à beira mar, o Sol nascendo por entre nuvens; um dia que prometia ser parcialmente nublado. Homens em grupos silenciosos, unidos pela concentração e determinação em busca das últimas pescas antes do pleno alvorecer.
.
A paisagem: uma divinal praia selvagem onde as embarcações modestas completavam a sensação de simplicidade; algumas ao mar, outras espalhadas pela areia.
Já se podia ouvir o som distante e altivo do gralhar eventual das aves de rapina, atraídas, decerto, pelo odor dos peixes ainda vivos nas cestas de vime. Quantas manhãs aquela cena se repetiu bem ali sem que eu soubesse? Só de imaginar que eu poderia tê-la saboreado antes...
.
Fui me aproximando inebriado pela beleza da cena. Pretendia me achegar a eles, me apresentar, agradecer por alguma coisa que eu não sabia dizer o quê. Dizer-lhes que, apesar de eu ser da cidade, estava disposto a largar tudo e viver por ali, naquele lugar, pescando a cada manhã com eles, talvez para sempre.
.
De repente uma mão no meu ombro! Possivelmente um pescador! A mão apertou e sacudiu de leve, como para me acordar. Virei ainda em transe. Era a Vanessa, minha mulher. Com a outra mão estendia-me, em silêncio, a chave do carro para me lembrar que a sua mãe já nos aguardava para o almoço. Fomos, deixando para trás a feirinha de artes da Igreja Betesda de Interlagos, mas levei comigo aquele momento naquela praia!
.
Hoje, ele está lá em casa, eternizado na parede do nosso quarto, ao lado da cama. Trata-se de um enorme quadro a óleo, aparentemente pintado há muito tempo, não se sabe quando, por quem, onde, nem por quê. Mas agora posso olhá-lo antes de dormir e voltar àquele indescritível lugar, onde, na verdade, nunca estive, não sei onde fica, nem quando foi tão hábil e magistralmente registrado.
.
.
Cesar Cruz
Jan/ 07
.
.
.
* créditos dos parceiros no rodapé do blogue.
.
.
.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cesar,

Que legal. Pescadores em plena São Paulo. A cena bucólica que sempre nos lança na direção do Mar da Galiléia, onde Ele chamou seus primeiros seguidores.

Um beijo,

Ricardo Gondim

Anônimo disse...

Muito bom, meu amigo. Ficou perfeito o áudio e o texto. Parabens!
Gabriel