"Pretenções"

Vira e mexe acontecem coisas que me derrubam do alto da minha jactância. Basta eu começar a ficar um pouco convencido e pumba! Já me esborracho no chão com escada, lata de tinta e boné. É batata. Depois que comecei com esse negócio de escrever, isso tem me acontecido regularmente, em especial no que se refere a Língua Portuguesa.
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Tenho refletido a respeito e cheguei a seguinte conclusão: é fundamental para o domínio da nossa língua, a compreensão e o decorar - perdoem-me senhores professores, mas muita coisa não há jeito, só decorando - das infinitas regras, variáveis, exceções, composições, estruturações, normas etc.
Diga-me: você conhece BEM o nosso idioma? Olha que para afirmar isso, assim com maíúsculas, você precisará ter a certeza que domina absolutamente tudo! Então vamos testá-lo: és capaz de explicar todas as regras e formas de uso que existem - por exemplo - na aplicação do hífen e do acento grave indicador de crase? Não? Bom, você não está só, amigo; eu também não sou capaz. E olha que estamos falando apenas de dois dos intermináveis calcanhares-de-aquiles da nossa amada Língua!
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O meu relacionamento com o idioma, é como o do menino pré-adolescente com a linda mulher adulta, pela qual ele é secretamente apaixonado. Toda faceira, ela passa por ele e nem se apercebe da sua existência; já ele, usando suas calças curtas e ainda imberbe, pensa: “ah... se estivesse ao meu alcance!”. Comigo e com a Língua Portuguesa também é assim, quanto mais busco alcançá-la, parece que mais distante fico de consegui-lo!
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Tenho me cercado de dicionários, gramáticas e manuais. Uso-os para consultas específicas e, às vezes, leio-os simplesmente, como se fossem romances.
Agora estou pensando em adquirir dicionários mais exóticos e metidos a besta. Ouvi dizer que existem dicionários morfológicos e semânticos! Vou comprar! - Será que aprender chinês é mais simples?
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Nas tardes de sábado tem um programa na Globo interessante. Crianças pré-selecionadas - bons alunos de escolas públicas - competem respondendo a questões diversas para ver quem é o melhor no português. Não perco um. Fico lá no sofá respondendo as perguntas junto com os guris! Mas geralmente sou humilhado. Já perdi a conta de quantas vezes um menino de 11 ou 12 anos do outro lado da telinha acerta a pergunta que eu acabei de errar...
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No último programa aprendi uma que eu não sabia. Veja só: sempre que a palavra “mini” for empregada como elemento de composição para a forma reduzida, deve ser unida à palavra seguinte. A única exceção é quando a palavra seguinte se inicia com a letra “h”. Poxa! Perto das demais regras, esta até que é fácil de decor..., digo, aprender. Não esqueço mais! Pena a resposta do professor ter chegado com atraso de 5 minutos em relação à minha necessidade; eu tinha acabado de empregar o “mini” da maneira errada em um texto no meu blog!; escrevi: “mini-romance”, e o correto seria: “minirromance”. Achou esquisito, né? Pois é... esquisito mesmo, mas correto. Eu digo, eu digo...
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Ah, antes que eu me esqueça: lá do lado de dentro da minha TV, um desses insuportáveis meninos de 11 anos me venceu de novo.
Mas o golpe que mais doeu na minha auto-estima, recebi há umas três semanas. Eu conversava com um amigo pelo messenger, sobre se eu deveria ou não ter um blog. Em determinado momento do papo escrevi o seguinte: “Sabe André, não sei se devo montar um blog, pois talvez eu tenha outras pretenções...”.
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A resposta que surgiu na telinha do meu computador foi como um murro-surpresa na boca do meu estômago: “Cesar, é muito bom que você pense grande, mas a primeira coisa que você deve saber, é que 'pretensões', se escreve com 's'".
Fingi que a conexão caiu, desliguei o computador e fui ajudar a minha mulher a lavar alface para o jantar.
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Cesar Cruz
Mar/ 08
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4 comentários:

Anônimo disse...

hahahaha !

adorei o "(...)e fui ajudar a minha mulher a lavar alface para o jantar."

Um abraço

G
26.3.08

Anônimo disse...

uahushhsauhauhs!!!

Fala "pai", tudo certo???

Ahhhahaa... Olha só! Vou dar uma informação que talvez te anime um pouco. Descobri atravês do nosso "Deus" na terra, o Google, que 28.100 pessoas escreveram pretenções da mesma forma que você, ou seja, com o bendito "Ç". Mentira? Confira no link abaixo.

http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=preten%C3%A7%C3%B5es&btnG=Pesquisa+Google&meta=

ahahhaa...um forte abraço!

Alex Marcos
26.3.08

Anônimo disse...

Meu caro César,
Não tenho a "pretenção" de lhe ensinar coisa nenhuma, mas existe uma coisa que aprendi há muito tempo: as regras do nosso idioma, como todas as demais regras, existem para ser quebradas. Os filólogos iluminados, muitos deles guiados por ranços ideológicos, excretam – para não dizer outra coisa – regras ilógicas, absurdas e inaceitáveis. As reforma ortográficas têm, quase sempre, o propósito de anular o que foi instituído na reforma anterior, voltando, muitas vezes, a ressuscitar regras de reformas mais antigas. Os filólogos, humanos que são (eu imagino) querem deixar sua marca na história, então promovem descalabros inacreditáveis. Admitem, por exemplo, que "ótico" e "óptico" têm o mesmo significado, tudo é ótico. Então, quando se diz: "Fulano comprou um aparelho ótico" torna-se obrigatório perguntar: para examinar os olhos ou os ouvidos? Os dois vocábulos derivam de radicais gregos distintos: ótico de ótikós (relativo às orelhas) e óptico de óptikós (relativo à visão), portanto não existe lógica na eliminação do "p" mudo. Há incontáveis estupidezas nas reformas.
Muitas das mudanças são incoerentes e inaceitáveis, uma delas, entre muitas, é essa do "minirromance". Fica feio, parece rinoceronte. Vou continuar escrevendo mini-romance. Na próxima reforma ortográfica, certamente algum iluminado decreta que a forma correta é mini-romance, como máxi-desvalorização.
Grande abraço,
Gabriel
26.3.08

Anônimo disse...

Acho que foi nessa ocasião que eu o instiguei mais ainda a fazer o blog! Há males que vêm para bem, hehe

Abraço e sucesso!
André
26.3.08