O Meu Natal de 1975



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Crônica publicada em 6 veículos:

Jornal do Cambuci & Aclimação
Jornal Gazeta do Ipiranga
Revista Vidaqui
Programa "Conte sua História de São Paulo" da rádio CBN
Portal Mundo Mundano
Revista Atitude - SP

. (Imagens: Blog do Milton Jung - clique para conferir em aúdio, na voz de Milton Jung. Eu na escola, 1975 - clique para ampliar a foto)
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Era o Natal de 1975, e eu tinha recém-completado 5 anos. Como acontecia todo o ano, o Papai Noel apareceu lá na minha escola naquela semana. Só que neste ano eu estava me sentindo passado para trás... Pensava assim: como Papai Noel pôde ter ido justamente à minha escola, se tem tanta escola no mundo? Devem ser mais de mil! Por que escolheu justo a minha?

Outra coisa me intrigava: O Papai Noel do Shopping Iguatemi era muito diferente do da Sears, do da Mesbla e do que foi à escola? Diferiam no comprimento da barba, no tamanho da barriga, na altura, na cor dos olhos, na voz... Não podia ser o mesmo. Mais um mistério: por que o Bom Velhinho estava sempre no mesmo lugar em que eu estava? Será que eu era o menino mais sortudo do mundo? Havia alguma coisa de muito errada naquela história toda...

Ninguém melhor do que meu pai para me dar uma boa explicação!

Após o jantar, num daqueles dias, sentei ao seu lado na sala e enumerei todas as minhas inquietações natalinas.

Seu Aloísio parou o que estava fazendo e ouviu, sem interromper, concentrado, toda minha explanação. Então fez um longo e grave silêncio, olhando longamente para o final do corredor escuro. Parecia preparar-se para uma revelação complicada. Limpou os óculos, respirou longamente e, muito sério, falou:

Cesar, você já está grande para saber de toda a verdade. Mas você terá que me prometer que não vai contar o que vou te dizer para nenhuma outra criança. Se fizer isso, vai estragar a fantasia da criança para sempre. Posso confiar em você?

É claro que podia! Jurei que guardaria segredo. Afinal, eu estava sendo inserido numa nova categoria do saber, a categoria dos adultos!

Então, papai me contou tudo...

Contou que nem o Papai Noel dos shoppings, nem o da escola, nem os que aparecem nos programas de TV, nas revistas ou em qualquer parte do mundo, nenhum deles é o verdadeiro. O legítimo nunca apareceu, nunca ninguém o viu e nem nunca verá, apesar de todos saberem que ele existe.

Para as crianças não ficarem tristes, ele envia todo o ano, mundo afora, milhões de ajudantes. São meros representantes fantasiados de Papai Noel, que são encarregados de anotar os pedidos de presentes, posar para fotos, propagandas, ir às escolas e animar o comércio, fingindo ser o verdadeiro Papai Noel.

É só quando a noite do Natal chega, enquanto todos dormem, que o verdadeiro Velhinho sobrevoa a cidade como um raio em seu trenó puxado por renas voadoras, indo de casa em casa, escondendo os presentes das crianças sob as árvores de Natal, atrás das cortinas, sofás... Ele é tão rápido que, numa única noite, percorre todas as casas do mundo sem que ninguém o veja.

E foi assim que, graças à presença de espírito do seu Aloísio, a minha crença no Papai Noel, que estava por um fio, ganhou vitalidade para sobreviver, inocente, por mais uns dois Natais... Feliz Natal!
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Cesar Cruz
Dez. 2008
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19 comentários:

Anônimo disse...

Boa César! Eu acho q sempre fui uma criança mala, pq ficava o tempo todo duvidando do papai noel e tentando provar q ele era uma invenção hahaha!

Feliz Natal!
Bjs, Mariana

Anônimo disse...

Eu li. Muito divertido! Você escreve muito bem!

Bjs,
Bianca

Anônimo disse...

Cesar,

Tudo bem?

Acabo de ler ‘O meu Natal de 1975’. Como suas outras histórias, elas sabem ativar nossas memórias e resgatar bons momentos do passado. Tenho a lembrança de um Papai Noel que visitou a casa de meu avô, lá pelos anos 60, e que teve sua barba puxada por um de meus irmãos mais velhos. E é claro que eu não entendi nada.

São boas lembranças, como aquelas que farão parte da história de Michele.

Abraço
Carlos

Anônimo disse...

Seu velho foi perspicaz! Lorotinha perfeita essa! kkkkkk!
bjins
Thais

Anônimo disse...

Opa... pensando bem acho que é verdade!!!!! Que p. história!!!
abç, Alessandro

Anônimo disse...

Sobreviver por mais dois anos?
Você parou de acreditar Nele?
Impossível.
Porque se parou, melhor recorrer à uma livraria na parte de livros infantis para fazer renascer essa fantasia aí meu caro. hehehe

Feliz Natal pra família. Beijos.

MARA RUZZA

Anônimo disse...

César,

Hoje, com o que eu estou encantada não é com sua escrita, mas com o senhor Aloizio, homem sério, que também escrevia muito bem, ponderado, tranquilo, presente, não é mesmo ?


Beijos às duas mulheres da sua vida.

Carolie

PS: sempre gostoso ler o que vocë escreve !!

Anônimo disse...

César Cruz. Bom dia! Venho apenas para te parabenizar e te agradecer. Essa gostosa história alegrou-me a manhã.
biejos a voce e a sua família e um feliz Natal repleto de saúde e paz!
Edina

Anônimo disse...

Salve César! Tomei a liberdade de escrever para voce para dizer que gosto muito dos seus causos que saem no jornal! Esse do natal é um sonho! que delícia a infância da gente não é mesmo? não sei se se pai ainda está vivo, mas o meu infelizmente já partiu.
Feliz Natal 2008 a voce!
bjo
Maria Fernanda
Vila Mariana

Anônimo disse...

Nem todo o jornal acaba seus dias forrando o chão pro cachorro fazer suas necessidades. Esse por exemplo eu vou fazer questão de guardar pra mostrar pro meu filho quando ele ficar grande. E alias vou usar a "estória" do seu Aloizio para fazer perdurar a fantasia dele. Mas ele ainda só tem 2 anos. Por enquanto ainda está começando a acreditar, a entender.
forte abraço e feliz Natal para vc e sua família.
Anderson J. Lima - Vila Monumento
Tel xxxx-xxxx

Anônimo disse...

Fala meu amigo, como anda a correria!
Muito bacana este conto de Natal, acabo de ouvi-lo na CBN com direito a producao e tudo, parabens!
Tenha um ótimo Natal e uma passagem de ano maravilhoso.
\E que vc continue nos brindando com estes maravilhosos causos.
Abraco gde.
Ataide Xavier

Anônimo disse...

Nossa Cesar! Tá ficando famoso! Logo, logo lançará uma coletânea!

Mariana

Anônimo disse...

cesaaaaaaaaaaaar q legal! eu vi seu site!!! eu tb escrevo!!!!!! faço umas cronicas, na verdade fiz algumas so.. acho q quatro ou cinco... mto legal mesmo!
Bj
Debora

Anônimo disse...

Cesar

Sensacional. Fiquei emocionado...não sei onde irão parar estes seus textos, desconfio que ainda vão longe longe...

Vagner

Anônimo disse...

Pombas, meu amigo, esta perfeita, emocionante. A leitura do Jung, também perfeita. Parabéns.
Abraço
Gabriel

Anônimo disse...

linda a sua cronica!...parabens
Eva

Anônimo disse...

CESINHA! BLZ AI?
CARAIO! O CARA TA NOJENTAÇO MANO! SAINDO NA VEJA, NO JORNAL NACIONAL, NO RÁDIO E POR AI VAI.... TA LOCO!

ABRAÇÃO
MAURÍCIO

Anônimo disse...

QUE SHOW!!! PARABÉNS!!!

BJÃO
KARLA

Anônimo disse...

César, colunista! Saudações!
Sou Frederico, moro no Cambuci e sempre encontro suas boas crônicas arejando essas páginas do jornal do bairro. Parabéns, pois são sempre muito divertidas e pertinentes! Gostei muito desta, mas para mim esse tempo já passou há muito. Estou com 63 muito bem vividos.
Percebi nos comentários que sua preocupação estética causou comoção demasiada nos leitores. Não se preocupe com isso! Os jovens devem mesmo se cuidar. Continue nos brindando com esses bons textos! Vou dar uma olhada no seu site, parece muito rico.
Feliz 2009! Obrigado!