Cadê o meu xampu?


Crônica publicada no Jornal do Cambuci e Aclimação*
Junho de 2010.

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Acima da minha cabeça, dentro do box do chuveiro, há uma prateleira onde ficam os xampus, sabonetes líquidos, lâminas depilatórias e apetrechos afins. Ontem, enquanto eu tomava banho, fiquei por um instante com o braço paralisado no ar e o olhar vacilante. Onde estaria o meu xampu? Não o achei. Usei o da Michele, que pelo menos não irrita os olhos. Terminei o banho e saí enfezado: “Vanessa, onde está o meu xampu?”

A Vanessa me explicou que eu não tenho xampu, pois não tenho cabelo. Mas ela não explicou isso, assim, em palavras claras, explicou de forma indireta, com um comentário neutro que fez sem desviar a atenção da televisão: “Não sei, amor... não acompanho os seus xampus...”. Mas que diabos! Eu tenho direito a um xampu! Da mesma maneira tenho direito de ter um pente, só meu.

Hoje, domingão, fui ao mercadinho do bairro. Peguei um bom xampu para cabelos oleosos e um belo dum pente, cheio de dentes. Ao passar no caixa, tive a sensação de ter flagrado um discreto sorrisinho sarcástico na cara da mocinha, que olhou para os produtos, depois para a minha careca, depois para os produtos novamente... Isso não é justo, pensei, e saí de lá decidido a me vingar. Então fui para casa lavar a cabeça. Literalmente.

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Cesar Cruz
Março 2010
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* crédito dos parceiros neste blogue
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9 comentários:

Pedro Luso de Carvalho disse...

Muito boa essa tua crônica Cesar. O escritor faz isso mesmo, escreve sobre o que, para a maioria, pode parecer banal. O escritor sabe que tudo o que faz parte da nossa vida e do nosso quotidiano é muito importante, embora possa passar despercebido por muitas pessoas.

Conta-se que alguém pediu para Tchekhov escrever um conto sobre a cabeça de um fósforo, e ele, em minutos, entregou-o pronto, como lhe foi solicitado.

Cesar, a sua sugestão para que eu escreva sobre Charles Kiefer é boa; tão logo termine uma lista de escritores sobre os quais estou escrevendo, escreverei alguma coisa sobre sua obra (sobre o Kiefer: 1. comprei, há pouco, "Antologia Pessoal", um livro de contos; 2. vez por outra cruzo com ele, numa livraria aqui no Bairro Bom Fim).

Forte abraço,
Pedro.

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, Cesar, você é um escritor versátil: quando quer, escreve com emoção; e quando não quer, é irreverente, engraçado. Os dois são ótimos.
Lembro que uma vez inventei de sair sem meus óculos, nada de bancar a míope. Queria ser mais normalzinha, igual a maioria. Isso na minha adolescência. Resultado, não cumprimentava ninguém e fui atropelada por uma bicicleta. Voltei para casa e vi que o normal pra mim era aquela ‘armação ovalada’ que eu achava anormal. Mas com ela eu enxergava o mundo.

O caso do seu xampu e pente deve ser normal há muito tempo pra você, só que usaste isso pra fazer uma bela crônica, e mostrar que nem sempre o que temos pouco ou não temos, é anormal. Hoje, acho os meus ‘oclinhos’ um charme. É questão de visão!!! hehe

Bjs
Tais luso

J.L. Rocha do Nascimento disse...

Excelente, Caesar Cruz. Quase me acabo de rir.
Um abraço tarantular.

Anônimo disse...

Muito bom... rsrs
Adoro a forma como escreve... parabéns!

Abraço

Anônimo disse...

AHAHAHAHA! ADOREI O "UM PENTE CHEIO DE DENTES"

BJO
DANI

Dalinha Catunda disse...

Olá Cesar,
Amei sua crônica, Ela saiu no ponto certo. Gostosa de se ler e bem humorada.
Um abraço,
Dalinha

Rodrigo de Moraes disse...

pois é Cesar.. pra que vc quer um xampu?
rs

abraços

Rodrigo!

Anônimo disse...

Pois é Cruz....aqui vai uma breve explicação, em defesa da Vanessa, claro!!
Xampus, foram feitos para os pêlos, que recobrem a cabeça de parte da população, para os que lavam a pele da cabeça, use um sabonete neutro...aproveite o pente e vá pentear macacos, ao invés de importunar a pobre na hora da novela....faça-me o favor!!!!

Baxo

Cristina Coelho disse...

No final de 2007, em uma brincadeira de amigo secreto, dei uma escova de cabelos longos e Shampoo para cabelos volumosos para um amigo que é calvo. O que eu não sabia é que ele não tinha se dado conta disto...Todos riram menos eu e ele. Nem imaginei que isto podia deixá-lo chateado. E eu tinha pensado em uma peruca, mas não encontrei para compar.