O meu exame de próstata




Crônica publicada
no livro A IDADE DO VEXAME & Outras Histórias (Pontes 2011),
no Jornal do Cambuci e
no portal Mundo Mundano.

Março 2011
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Outubro de 2010,

40 anos recém-completados. Lá estou eu de frente para o doutor Miguel para o check up geral da minha quarta década de vida sobre a Terra. Depois de um papinho preliminar sobre alimentação, vícios, estresse, sono e hábitos gerais, o doutor Miguel foi escrevendo os exames que eu faria: sangue, urina, ergométrico, colesterol completo, ecocardiograma etc e tal. Eu ali, quieto, lembrando da recomendação da Vanessa “Se ele não falar nada você fala! Com 40 tem que fazer, Cesar, você sabe, é a sua saúde!”.

Era só o que me faltava. É claro que eu não iria pedir uma coisa dessas ao médico. Ele iria achar no mínimo que sou um viadão enrustido; imagina só: um cara que acaba de fazer 40 anos e já no mês seguinte vai correndo pedir ao médico que lhe introduza um dedo no anus para fins medicinais. Francamente...

– Vamos fazer também próstata, Cesar – ouvi a voz do doutor Miguel interromper meus pensamentos. Pronto, não precisei nem pedir.

Estranhei aquele “vamos fazer”. Sabe-se que no dos outros tudo é refresco, mas seria aquele um eufemismo para que eu não me sentisse assim tão só num momento, digamos, delicadíssimo?

Resolvi fazer como as ovelhas: calar diante do sacrifício iminente. O negócio seria lavar muito bem as partes, vestir uma cueca novinha e enfrentar tudo com muita dignidade.

– Aqui está – disse ele, me estendendo os papéis – Volte com todos estes exames concluidos para conversarmos. Foi aí que eu entendi que não seria com ele. Mas com quem seria então?


Dias depois...

Lá estava eu, logo cedo, no Delboni lotado, de mãos geladas, naquela terrível expectativa. Cada enfermeiro que passava eu olhava as mãos, torcendo para pegar um bem pequenininho. Passei a manhã inteira assim. Nos intervalos das torturantes esperas, colhi urina no copinho, fiz o exame na esteira monitorada e o ecocardiograma, que consistia em deitar de ladinho, sem camisa, e ficar ali, submisso, sentindo um objeto cilíndrico ser deslizado pelo meu peito, pra lá e prá. E com gel. Um mau presságio.

De volta à recepção, eis que um enfermeiro (enorme) me chama:

– Senhor Cesar Cruz?

– Sim...

– Me acompanhe, por favor.

Havia chegado a hora. Fui pelo corredor seguindo o cara que de costas parecia um ônibus. Entramos numa sala e a porta foi fechada.

– Sente-se ali, por favor.

Então seria sentado, que humilhação. De garganta seca, apavorado, fiquei vendo-o calçar as luvas de borracha naquelas mãos enormes. Cada dedo do sujeito parecia um charuto cubano.

– Amigo, será que antes podemos tomar um vinhozinho? Estou meio sem clima... – arrisquei. Ele, quieto, a essa altura já me amarrava um dos braços com uma borracha...


Na semana seguinte...

Voltei ao doutor Miguel. Estava decidido a não contar o que havia acontecido. Não revelaria aquilo nem pra ele, nem pra Vanessa, nem pra ninguém. Guardaria aquele segredo só para mim.

– Tudo bem? – foi a primeira pergunta que o doutor Miguel me fez quando me sentei. – Pelo jeito era um conluio para me sacanear, achei até ter visto um sorrisinho por trás daqueles óculos.

Respondi que sim e fiquei esperando que ele falasse algo. Não seria eu que iria reclamar de nada. Ah, não mesmo! Ele abriu os envelopes com os resultados e começou:

– Triglicérides ok, um pouco de ácido úrico, mas nada demais, coração com pequenas arritmias, nada grave, saudável, colesterol total ok, próstata ok...,

Opa! Na hora que ele falou em próstata não entendi mais nada. Então resolvi quebra o compromisso do silêncio:

– Doutor, preciso confessar, não fiz o exame de próstata.

– Como assim, não fez?

– Acho que eles se esqueceram.

– Imagina, está aqui!

– Impossível, doutor, só se me doparam, porque eu não me lembro de nada.

– Ah..., você está se referindo ao exame de toque? Não, não, Cesar. Esse eu só peço quando aparece alteração na dosagem do PSA no sangue, mas o seu está dentro dos parâmetros normais. Fica tranquilo.
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Cesar Cruz
Abril 2011
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15 comentários:

Caca disse...

César, eu estou insistindo há anos nesse tal de PSA. Agora, a turma do "relaxe e aproveite" vem me pressionado sistematicamente, já que dizem que ao se aproximar dos 50 não tem escapatória. O PSA não terá mais eficácia diagnóstica e tem que ser no dedão. Credo! hahahahah! prepare-se , meu amigo, mais cedo ou mais tarde...
Abração. paz e bem.

Anônimo disse...

vamos rezar ardentemente para que o armário de seis portas se aposente até lá....

xara - ipiranga - sp-sp

porcelanas disse...

Cesar, sem menosprezar seu momento tô rindo até agora!
beijo, Lu

Anônimo disse...

Puts bom saber que tem esse PSA, porque para ter dedão eu prefiro morrer de câncer!
A.

Anônimo disse...

Meu irmão, confesso que fiquei preocupado com essa sua pressa logo aos 40. Você, todo bombadinho!? Eu esperei literalmente até os 45 do segundo tempo... fiz com 45 anos. Se quando você fizer e aparecer com um papinho de que "é sempre bom uma segunda opinião...", relações cortadas!
abs
Sérgio Franco

Percival Deimann disse...

Caro Cesar:
Você é hilário!
Faça como uma atual ministra se referiu no passado recente a um distúrbio aéreo...
Abraços do amigo

5º ano B disse...

Já me perguntaram " o que ta rindo ai sozinha sua louca".
César meu amigo , as meninas aqui da escola estão pedindo o endereço do laboratório desse enfermeiro armário rsrsrsrs

Gabriel Fernandes disse...

Muito bom, meu amigo, já passei por isso. Agora encaro UMA urologista: dedos mais finos e delicados. Mas, pelo que sei, PSA e toque não são excludentes. O toque é preventivo e o PSA é o famoso já-era, se deu fora dos padrões, já-era. Hehehe!

Abços
Gabriel

Mari disse...

hahahahahahahahahaha.. ficou decepcionado, né?

Mari Marchioni

Anônimo disse...

Bom cesinha, ainda estou com 37.... até lá já vai ser no raio x.
abs
pj

Anônimo disse...

desculpa César ...AHAHAHAHAHAHAHAH SEGUNDA OPINIÃO FOI DO C...

xara - ipiranga - tô chorando cara.... DE RIR

Eloah disse...

Adorei.Foi motivo para boas risadas.Estou aqui ainda a rir.Vou repassar teu texto para um amigo e daremos muitas risadas juntos.Abraços

Therezinha disse...

OI SOBRINHO,ESTOU RINDO MUITO.

TIA

Anônimo disse...

Hahahahahahhaa!
Me divirto! Sempre!
E continuo afirmando, o exame de toque é mais simples do que os femininos, hahaha!

Bj na Vanessa e na filhota.
Bj, Mara

Anônimo disse...

HAHAHAHA muito bom...

Yara