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Crônica publicada na Gazeta do Ipiranga* e no Jornal do Cambuci & Aclimação*
Junho de 2009.
Junho de 2009.
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Circulo com minha filha pelos lugares e os percebo. Fitam-nos. Algumas pessoas, cujos olhares contêm uma curiosidade que se manifesta discretamente, os lançam de soslaio sobre nós, disfarçadamente, para não serem flagrados em sua fraqueza.
As pessoas fazem o mesmo quando avistam alguém imensamente gordo, ou um tristemente aleijado, ou um casal gay. De certa forma, isso é natural. Os olhos querem olhar, medir, compreender o diferente. Ainda que não se atenham à dor que isso possa produzir. Há quase uma comichão nas entranhas de certas pessoas, tamanha a voracidade que têm por invadir, especular e atribuir valores ao que, para elas, é incomum.
Rubem Alves escreveu sobre isso, mais particularmente sobre o sentimento da criança diferente, que se sente observada. Reproduzo, abaixo, trechos de um de seus livros:
Hoje, minha filha Michele, em seu pequenino mundo infantil, não entende muita coisa. Para ela todos são bons, e ela ignora que neste mundo haja preconceitos e julgamentos de toda a espécie. Confia e gosta de quem quer que se aproxime. Para ela, o mundo se resume a um careca que é o papai e uma moça dos cabelinhos negros, que é a mamãe. Ambos cuidam dela e, juntos, vivem num lugar que chamam de casa. Quando ela tem fome ou sede, pede “papá!” ou “ága!”, e o careca e a moça correm servi-la.
Na sala da sua casa existe um caixa que exibe coisas legais e que ela adora, desenhos divertidos e programas com musiquinhas gostosas que ela canta e dança a seu modo. Em frente à caixa, há um negócio fofo e comprido que a mamãe chama de sofá e onde todos se sentam. Às vezes, quando papai e mamãe estão distraídos, ela sobe ali e pula repetidas vezes em meio a gargalhadas e gritos eufóricos: púa!, púa!, púa!, púa!
E assim seus dias se sucedem em uma rotina muito singela, mas que satisfaz plenamente as suas exigências primárias.
Há também o passear, a escolinha, com suas atividades lúdicas, o Juca — o cachorro do vizinho —, os gatos de casa, a bobó e o bobô, o carrinho de supermercado, que ela adora andar dentro, em pé, durante as compras...
À noite, por volta das oito horas, após o banho, o papai escurece o quarto e a leva até a janela para que ela dê tchau ao dia que acabou, atividade que ela adora fazer, agitando a mãozinha: “Taaaaaaaaaaaau!”.
Então o papai fecha a janela e desafina baixinho algumas cantigas enquanto a embala no colo, o que a leva gradualmente a um estado de relaxamento e calma. Enquanto a voz do papai vai se esvaindo, transformando-se em efêmeros e distantes sussurros, tudo vai se apagando. E, enfim, sem que ela saiba como, acaba deitada na segurança de seu berço para o inocente descanso. E isso é tudo.
Por ser uma criança negra e ter pais brancos, a Michele é alvo de muitos desses olhos invasivos, que anseiam a qualquer custo saciar sua sinistra curiosidade, sem poupar ninguém, nem ao menos os inocentes.
Hoje isso não nos incomoda, mas me preocupa pensar em como esses olhares, que eu percebo claramente incidindo sobre nós, atingirão o coraçãozinho da minha filha quando, daqui a quatro ou cinco anos, ela já for capaz de compreender melhor as coisas.
Como disse Rubem Alves, mais cruel do que palavras duras podem ser os olhos dos outros. Esses olhos especulativos e sedentos, às vezes ferinos, que não só olham, mas escarafuncham, perscrutam, desnudam, avaliam, ferem, julgam, condenam, oprimem e excluem.
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As pessoas fazem o mesmo quando avistam alguém imensamente gordo, ou um tristemente aleijado, ou um casal gay. De certa forma, isso é natural. Os olhos querem olhar, medir, compreender o diferente. Ainda que não se atenham à dor que isso possa produzir. Há quase uma comichão nas entranhas de certas pessoas, tamanha a voracidade que têm por invadir, especular e atribuir valores ao que, para elas, é incomum.
Rubem Alves escreveu sobre isso, mais particularmente sobre o sentimento da criança diferente, que se sente observada. Reproduzo, abaixo, trechos de um de seus livros:
"Esta estória foi construída em torno da dor da diferença: a criança que não se sente bem igual às outras, por alguma marca no corpo, na sua maneira de ser (...) Ela lida com algo que dói muito: não é a diferença, em si mesma, mas o ar de espanto que a criança percebe nos olhos dos outros (...) Os olhos, de órgãos de carinho, transformaram-se em ferrões (...) O medo dos olhos dos outros é sentimento universal. Todos gostaríamos de olhos mansos (...)."
Hoje, minha filha Michele, em seu pequenino mundo infantil, não entende muita coisa. Para ela todos são bons, e ela ignora que neste mundo haja preconceitos e julgamentos de toda a espécie. Confia e gosta de quem quer que se aproxime. Para ela, o mundo se resume a um careca que é o papai e uma moça dos cabelinhos negros, que é a mamãe. Ambos cuidam dela e, juntos, vivem num lugar que chamam de casa. Quando ela tem fome ou sede, pede “papá!” ou “ága!”, e o careca e a moça correm servi-la.
Na sala da sua casa existe um caixa que exibe coisas legais e que ela adora, desenhos divertidos e programas com musiquinhas gostosas que ela canta e dança a seu modo. Em frente à caixa, há um negócio fofo e comprido que a mamãe chama de sofá e onde todos se sentam. Às vezes, quando papai e mamãe estão distraídos, ela sobe ali e pula repetidas vezes em meio a gargalhadas e gritos eufóricos: púa!, púa!, púa!, púa!
E assim seus dias se sucedem em uma rotina muito singela, mas que satisfaz plenamente as suas exigências primárias.
Há também o passear, a escolinha, com suas atividades lúdicas, o Juca — o cachorro do vizinho —, os gatos de casa, a bobó e o bobô, o carrinho de supermercado, que ela adora andar dentro, em pé, durante as compras...
À noite, por volta das oito horas, após o banho, o papai escurece o quarto e a leva até a janela para que ela dê tchau ao dia que acabou, atividade que ela adora fazer, agitando a mãozinha: “Taaaaaaaaaaaau!”.
Então o papai fecha a janela e desafina baixinho algumas cantigas enquanto a embala no colo, o que a leva gradualmente a um estado de relaxamento e calma. Enquanto a voz do papai vai se esvaindo, transformando-se em efêmeros e distantes sussurros, tudo vai se apagando. E, enfim, sem que ela saiba como, acaba deitada na segurança de seu berço para o inocente descanso. E isso é tudo.
Por ser uma criança negra e ter pais brancos, a Michele é alvo de muitos desses olhos invasivos, que anseiam a qualquer custo saciar sua sinistra curiosidade, sem poupar ninguém, nem ao menos os inocentes.
Hoje isso não nos incomoda, mas me preocupa pensar em como esses olhares, que eu percebo claramente incidindo sobre nós, atingirão o coraçãozinho da minha filha quando, daqui a quatro ou cinco anos, ela já for capaz de compreender melhor as coisas.
Como disse Rubem Alves, mais cruel do que palavras duras podem ser os olhos dos outros. Esses olhos especulativos e sedentos, às vezes ferinos, que não só olham, mas escarafuncham, perscrutam, desnudam, avaliam, ferem, julgam, condenam, oprimem e excluem.
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Cesar Cruz
Maio 2009
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* créditos dos parceiros neste blogue. .
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36 comentários:
Gostei muito do título. Eu já esperava uma crônica como essa. Para a maioria das pessoas é difícil aceitar as diferenças. Gostei também do texto, se publicado no jornal do Cambuci, vai servir de alerta para muitas pessoas que, talvez por ignorância, ingenuidade ou falta de atenção, têm esse comportamento reprovável.
Beijo na Mimi.
Abraço
Gabriel
Oi Cesar,
Gostaria de contribuir comentando algo: nem todas as pessoas emitem olhares negativos. Alguns olham por mera curiosidade, dado o caráter pouco comum da cena.
Embora muitas olham com os olhares que você mencionou, outras certamente olham com admiração e respeito, talvez até com certa dose de preocupação por conhecerem bem as histórias de preconceito de nossa sociedade.
Bjs
Arlete
a parte que voce descreve a vidinha da sua filhinha está arrepiante! linda. poética, doce..... nem sei explicar.
Parabéns pelo causo!
Daniela Mara
Cesar, nem todas as pessoas tem um grau de evolução que permitem um olhar inofensivo ou até mesmo indiferente, não demonstre raiva ou irritação, pois se assim você fizer perderá duas vezes, mantenha-se sereno e impassível demonstre seu maior grau de evolução como ser humano. Prepare sua filha gradativamente para o mundo que a cerca, e tudo vai dar certo.
A propósito você esta com um baita braço.
Um abraço
Waldemar
Partilho um pouco dessa angustia...... semana passada pensei bastante nisso!
Damos o nosso melhor, ensinaremos e daremos suporte que podemos para que os pequenos qdo não forem mais tão pequenos enfrentem isto da melhor forma...... mas acredito muito na força do amor! Acredito que o amor será a principal força motriz dos nossos filhos!! E esta força a Mi vai conhecer muito bem!
BJOS
Carol
nota do autor: A amiga Carol e seu marido Villy, têm 2 filhos pequenos, adotivos também. E negros.
Olá César
Acho que compreendi bem o que voce quis dizer. mesmo que o olhar seja inofensivo ou apenas curioso, mas sem maldade ou preconceito, mesmo assim é pernicioso para a criança, pois ninguem gosta de se sentir alvo de olhares incomuns. Todos querem se sentir normais quando andam pelo meio do povo. E isso por si só agride e machuca. entedi perfeitamente.
beijos para vc e sua filha Michele que é linda demais!
Maria Stella
Aclimação
ob. publique essa no jornal do cambuci! vale a pena as pessoas lerem isso!
A pessoa passa por um gordo enorme e olha mais do que deveria olhar, certo? Sabe porque faz isso? Por que não tem compromisso com aquela pessoa. Só quer satisfazer a vontade de ver aquela “coisa” diferente. O cara que se dane se ficar magoado, ferido! Problema dele! Não é assim?
Bom você ter escrito sobre isso. Muito bom! Parabéns!
Milton
Sp
Sou o cara da "curiosidade que se manifesta discretamente". Confesso que as vezes olho para os diferentes..... O olho quer olhar, é engraçado como somos curiosos! Mas não é por mal. Procuro ser o mais discreto possível.
Parabéns pelo blogue que esta muito bom e rico de textos de humor e emoçao!
abraços!!!
do Ciro (Ipiranga. Leitor do jornal que vc escreve)
Fique despreocupado, meu amigo! Quando a Michele começar a perceber os olhares estranhos e comentários maldosos já vai estar com o coração tão cheio do amor e vai se sentir tão segura disso que o resto ficará pequeno demais.
Vocês formam a família "café com leite" mais linda desse mundo!
Sou fã dos 3!
Beijos, Yeah
Césinha,
Eu não sei se concordo com você, a curiosidade humana, nem sempre vem recheada de maus sentimentos. O seu ato e da Van, é digno da admiração dos demais, é de uma coragem tão bonita, que despreza a pequenez de sentimento dos covardes infelizes.
Receba estes olhares com o orgulho que sua atitude merece. E quando a Mi entender, vai ver que a olham por inveja , ou por real admiração. Ela pode ser feliz de ter sido acolhida por um casal que soube amar diferente dos padrões, e pra não fazer tanto barulho ,os corações dos demais aplaudem com os olhos.
Baxo
Cé,
Concordo com o meu maridão(Baxo),no mais pessoas iguais a você e a Van,com alma e coração tão....lindo,puro,grande,bondoso,
autruísta;enfim, pessoas assim não precisam se preocupar com essas coisinhas...você vai ver.
bj
Gabi
Nossa como foi bom ter vindo parar aqui neste site!
Quero deixar minha opinião sobre isso.
Não se trata de pedir a um pai que não esquente com isso ou que o amor resolve tudo. O buraco é bem mais embaixo. A questão é que quem é diferente SENTE os olhos dos outros sobre si. Eu sei disso, pois tenho um filho com Síndrome de Down que tem 14 anos hoje. A minha vida inteira vivi isso. As pessoas podem até olhar com o coração cheio de amor ou de respeito, mas a verdade verdadeira é que elas não deveriam olhar, em concideração a própria pessoa diferente que passa uma vida sendo olhada, olhada, olhada... Mamae porque me olham tanto? O meu filho já me perguntou isso..........
Cesar, querido. Se quizer apagar este comentário fique a vontade, mas saiba que eu te entendo. As pessoas em geral não tem sensibilidade e como disse um outro ai, querem que se dane querem mesmo é matar sua curiosidade. Você escreveu muito bem! Parabéns pela filhota que é linda e saudável! Fiquem com Deus.
Denise
Sao Paulo,Capital
Oi, César, Vanessa, Michele,
Tudo bem ?
Leio todos os seus causos e sempre gosto, uns mexem mais comigo e outros menos. Uns me fazem pensar em vários valores e posturas e outros me fazem rir.
Este, dos olhos, me fizeram parar e, na hora, nao quis responder. Porque você tocou em um ponto sério.
1) Acho sempre que adotar uma criança é um ato muito mais corajoso e cheio de amor do que ter um filho
da gente. E, com certeza, a gente gosta do filho que fomos procurar tanto quanto o que tivemos biologicamente.
Não é ter os filhos que nos faz amá-los. São as horas acordadas, as preocupaçòes com suas doencinhas, choros, perdas,
febres, é esse todo dia que nos faz amá-los, a ponto de querermos sofrer no lugar deles.
Talvez, eu imagino, com uma dose de superproteção maior ainda do que aquela que instintivamente criamos
ao receber nosso filho nos braços, após seu nascimento.
2) Num dos comentários, li que alguns olhares são de admiração (e o são, pode ter certeza), outros simplesmente
de curiosidade e outros ainda que eu chamo de enigmáticos. E é vardade.
3) A Michele vai conviver com isso pela vida. Mas, com toda a dose de amor que vocês e todos, parentes e amigos
a rodeiam todos os dias, ela, com certeza vai ter segurança suficiente para tirar sempre um saldo positivo das situaçoes
que tiver que enfrentar. E, pelo que li, das suas cantorias e dos cuidados da Vanessa, já sei, ela já tem um bom saldo.
Nossa se me deixar, vou filosofar umas horas.
Beijos
Carolie.
Cesar,
Sempre leio seus escritos com desejo de mais, quero o prosseguimento e, aí descubro que ele continua dentro de mim.
Essa coisa do olhar, então, me causou um espanto...
Faz mais de um ano que uso bengala e, por força de um problema neuromuscular, dou giros ao redor de mim mesmo. Estranho, né?
Pois é, todos acham e encaram, com aquele olhar de juízo ofendido. O resultado tem sido que, cada vez menos saío da roça, onde moro. E, aqui, plantas e bichos só melham dum jeito só, bondoso!
Abraço,
Onaldo
Gostei muito da crônica, na verdade me enxerguei em detalhes em algumas partes. Mas, como disse o anônimo 2, alguns simplesmente tem curiosidade e eu, otimista que sou, acho também que uma boa parte das pessoas me lançam um olhar de carinho, por achar um grande ato de amor. Abraços e beijos na MI.
Gostei muito, César. Parabéns!
Silvia
Cesar, sei que no blog temos que ser "meio formais" mas aqui podemos nos manifestar mais "mundanamente", meu tava um arregaço cara, muito bom, pena ser tão espaçado seus textos... em fim, obrigado mais uma vez por essa honra!
abraço a vc e bola pra frente!
Mario / brechó.
Cesar, na verdade o que eu ía postar era esse, mas como já me entregou no anterior não tem problema...rs, mas segue o original.
ahahah..... são por estas e outras idiotices que apelidei meu filho (que tem a cor de um papel sulfite) de negão (embora isso também seja uma grande idiotice, só não maior que o preconceito humano). Ah! Meu grande amigo, desencana, o que a Mi vai sentir ou não de tudo isso vai depender única e exclusivamente de como orientarem Ela "desde já" a respeito. O Meu filho, trabalho ele desde pequeno, porque todos nós temos alguma diferença por mais belos que sejamos, não adianta, sempre tem. Concordo em número, gênero e grau superlativamente com a Carol: " Damos o nosso melhor, ensinaremos e daremos suporte que podemos para que os pequenos qdo não forem mais tão pequenos enfrentem isto da melhor forma...... mas acredito muito na força do amor! Acredito que o amor será a principal força motriz dos nossos filhos!!" Esse é o caminho, nem tem mais o que comentar.
Só pra citar duas coisinhas aí vai:
"Mais fácil dividir o átomo que acabar com o preconceito humano" - Albert Ainstein
E quando perguntaram para Ivo Pitangy , sei que não precisa mas só pra lembrar o maior cirurgião plástico do mundo, se Ele se preocupava com as rugas que trazia em sua face, disse Ele: "minhas rugas são a dignidade do meu rosto", ou seja, o melhor caminho é orientar nossos filhos a não ligarem pra nada do que disserem, em teoria é fácil, mas se começamos desde pequeno o resultado é quase certo.
Ademais Cesar, continue nos fazendo profudamente felizes com seus ditames. Abraços a Vc e a todos que tiverem a honra de passar neste blog.
Mais uma de lambuja:
Mark Twain
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Se você julga as pessoas, não tem tempo de amá-las
xara
ipiranga
Cesar,
Não por acaso este seu artigo está repleto de comentários. Me debruço sobre a tela do computador e me deixo levar por todos eles. São os olhares dos outros sobre aqueles olhares que você soube tão poeticamente escrever, com sábios desvios dos lugares comuns ou dos clichês que, por vezes, terminam por ressoar mais preconceitos do que aqueles que nossas lidas diárias nos ensinam a evitar. Seus textos trazem sempre, nas entrelinhas, um crítico e saudável olhar sobre as relações humanas, como se procurasse, delas, extrair uma beleza que teima em se fazer oculta. Desta vez, porém, você navegou muito acima daquelas mesmas entrelinhas. Os olhos dos outros nunca se mostrarm tão evidentes, tão visíveis. Parabéns!
Abraço,
Carlos
Cesar:
Uma cronica muito REAL, e ainda mais aos meus olhos, que voce sabe, como voce adotei uma menina que nao eh branca.
Essa curiosidade nos enfrentamos desde que ela era pequena (hoje com 19 anos). Mas, como dizem os americanos, eles sempre dao o "second check" (olham uma vez, e voltam a olhar...).
Adorei sua cronica, Cesar. E gostaria que se possivel, voce me mandasse seu email porque gostaria de trocar com voce algumas impressoes muito profundas e serias que enfrento nesse momento com minha filha.
Um beijo!
MARY
PS: Meu email: mary.cinci@fuse.net
Meu caro Cesar,
Primeiramente, estou grato pelas palavras que disseste sobre o que eu escrevo no meu blogue. Reconheço que a linguagem e o conteúdo dos blogues deveriam melhorar, devem melhorar. É uma mídia interessante e tem que ter utilidade mais significativa do que as coisas que rolam neles. ´
Porém, meu caro Cesar, acredito que esta mídia tende a avançar mais neste caminho. Mas deixemos isso de lado, por enquanto, e vamos ao interessa, também agora: Literatura! Arte Literária! Sou professor formado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e milito na arte literária desde o final da década de 70. Escrevo, escrevo, escrevo.
Por fim, você a partir de agora é minha indicação de rede dos escritores e amigos que admiro, veja: www.emersonaraujo46.blogspot.com.
Quanto ao conto "O homem suprimido" notei nele uma forte carga de realismo fantástico. O homem suprimido mostra de forma fantástica que o ser humano está numa "roda viva" sem muitas perspectivas. Sabe, rapaz, um dia desses escrevo mais sobre ele e te mando.
Forte Abraço,
Emerson Araújo
Teresina - Piauí
AHAHAHA! LI TODOS OS COMENTÁRIOS E ACHEI FANTASTICO!!!! SEI LÁ SE É MELHOR O CAUSO OU OS COMENTÁRIOS AHA! SEMPRE LEIO VC NO JORNAL, MAS DESSA VEZ PENSEI - VOU TER QUE DAR A MINHA OPINIÃO!
AGORA SÉRIO - ACHO QUE O TRECHO DO RUBEM ALVES RESUME TUDO. FALOU O MESTRE! COPIO A SEGUIR PRA QUEM ESQUECEU -
"Esta estória foi construída em torno da dor da diferença: a criança que não se sente bem igual às outras, por alguma marca no corpo, na sua maneira de ser (...) Ela lida com algo que dói muito: não é a diferença, em si mesma, mas o ar de espanto que a criança percebe nos olhos dos outros (...) Os olhos, de órgãos de carinho, transformaram-se em ferrões (...) O medo dos olhos dos outros é sentimento universal. Todos gostaríamos de olhos mansos (...)."
ACABOU A DISCUSSÃO! PONTO FINAL! NÃO PRECISA DIZER MAIS NADA. É O MEDO DOS OLHOS QUE MACHUCA QUEM É OU SE CONSIDERA DIFERENTE! QUEM DIZ ISSO NÃO SOU EU, MAS O MESTRE RUBEM ALVES!
ABRAÇOS E PARABÉNS PELOS BELOS CAUSOS QUE ESTOU ACHANDO AQUI COM O QUEIXO CAIDO. TEM OUTROS ÓTIMOS QUE VOCE DEVERIA POR NO JORNAL!
GABRIEL LUIZ
ANALISTA DE SISTEMAS
LIBERDADE SP
Parabens pelo artigo. Muito real e muito oportuno.
Pena que não possamos continuar como as crianças, sem maldade e sem preconceitos.
É por isto que Jesus nos disse que para herdarmos a vida eterna temos de voltar a ser crianças.
Mais uma vez parabéns pelo seu blog.
Oi César
Saudades de vc, da Van e principalmente da minha favorita!
Confesso que esses olhares me incomodam, sei que não deveriam mais me incomodam.Como sou meio briguenta eu devolvo o olhar, mas devolvo diretamente perguntando com ele " Qual é o problema?".
O preconceito existe sim, mas filhos criados com amor, aprendem a se amar e a retribuir esses olhares com dignidade e orgulho de sermos quem somos...será que dá para entender?
Quanto a Mi, não tem coisa mais gostosa que aquelas pernocas e os beijos babados! Morro de saudade deles e acho que devemos nos organizar para que a molecada cresça junto, felizes, amados e retribuindo o olhar do outro com um sorriso de aceitação e compreensão.
Beijos nas suas meninas e um cheirinho na Mi...
Glau
Cesar
Há um bem merecido prêmio para você no blog Brasil Liberdade e Democracia.
Caro Cesar, não sei bem o que vc está sentindo. Para mim encaro com muita naturalidada essa relação, mas tem muitas pessoas que realmente acham ver aqueles emos ou Hemos....sei lá..., do que que ver uma manifestação de amor. Beijo no coração.
Abraços mano careca.
Alê
Poxa César! Seu blogue está muito legal! Fazia um século que eu não entrava aqui e agora todos os causos tem uma foto inspiradora e esta tudo organizado parecendo uma biblioteca! KKKKKKKKK!
Parabéns!
bjs
Mariana
A MINHA VIDA, A MINHA VISÃO
Compro a Gazeta do Ipiranga tão somente para ler a parte de Anuncios. Entretanto desta vez, meus olhos se dirigiram ao seu artigo, e não acredito na pura casualidade.
Imagino que sua filha seja adotada. Sou filha de japoneses nascidos no Japão. Minha mãe morreu quando tinha apenas uma semana de vida, e ja estava prometida para uma familia amiga para que me criassem. Meu pai era baiano e minha mae descendente de italianos.
Quando era criança, ouvia conversas e cheguei a conclusão que era adotada. Mas,
JAMAIS ME OLHEI NO ESPELHO E ME VI DIFERENTE DE MEUS IRMÃOS.
Tolice minha? Não creio. O amor de minha mãe (meu pai adotivo morreu cedo) me fazia sua filha verdadeira.
Tenho muito orgulho disso e sei, com absoluta certeza que se fosse negra, a história seria a mesma. Não veria a diferença.
O amor dos pais protegem a criança do mundo. VEja o caso de Anne Frank.
Confiem.
Apenas peço que permitam a sua filha sofrer na adolescencia pelo fato de tomar consciencia da adoção. Isso sempre é um problema a enfrentar. Acredito eu.
Felicidades a sua bonita e colorida familia.
Oi, César.
Gostaria de postar um comentário inovador, mas o seu amigo Baxo traduz muito bem o meu pensamento. Assino em Baxo, digo, em baixo.
Beijo, Tânia (Cerqueira César/SP)
Comentário enviado pela Denise, amiga, no orkut da Vanessa, após ler a crônica no Jornal do Cambuci:
Dak:
Van,tudo bem com vcs?
acabo de ler a crônica do maridão no jornal.
só um alerta!
outro dia no super mercado tinha uma garotinha de aproximadamente 2 anos em pé no carrinho e eu olhando para ela,pois estava com a barriga encostada na lateral do carinho tentando puxar a mãe que estava na gondula,e de repente, o carrinho virou e a memina caiu; deu uma roladinha e bateu na ultima prateleira da gondola,se cortou,pois havia vidros de shoyo. Sendo assim cuidado ! não fique brava comigo,mas lendo a crônica lembrei do caso e claro da linda da MI
beijão
Denise
Cesar
Como vai a Van e a minha preferida?
Postei um conto seu na comunidade do Orkut: Adoção Exemplo de Amor(AEA), todo mundo elogiou, peça para a Van procurar no tópico sobre racismo e te mostrar.
Beijos
Glau
Cesar , parabéns por colocar em palavras o que eu tb sinto e vivo todos os dias , eu conheço a Mi e Van , o meu filho esteve no mesmo abrigo que a MI , e além dele ter traços negróides e indígenas ele é especial , por isso entendo bem o que os olhares representam e tb tenho muito medo do que esses olhares vão representar quando ele puder entender , por enquanto ele só sabe que é amado e cuidado por seus pais que o amam muito .
beijos na família linda
Parabéns
Carol
Oi Cesinha,
Sou eu o alê das Zoropa.Sabe que no vosso caso ela só vai ser lhada quando tiver junto a voçês pelo contraste da cor.Quando estiver sozinha ela é mais uma brasileira.
Aqui na Europa é muitíssimo comum ver pais europeus com filhos negros , asiáticos ,etc. E eu olho.Olho mesmo porque acho isso lindo. Se a minha vida me permitisse ter filhos e optasse por adotar tb eu adotaria um negro e uma filipina ou vietnamita.
Gosto muito do contraste das raças ao estilo Beneton.
Não se preocupe com os olhos alheios.Vc sabe que já andei por esse mundão e posso te dizer que o Brasil é o país menos racista do mundo.O judeu se dá com o alemão , que se dá com o negro , que se dá com o rico , etc. Tenha certeza do que te estou dizendo.
Abração proçês,
Alê
César,
Esse julgamento não é exclusividade da diferença racial, social, de opção afetiva. Uma criança com orelhas grandes é humilhada pelos colegas de sala, um morador de favela tem menos chances de conseguir emprego em uma empresa que um não morador. Um jovem com visual diferente é tido como drogado.
Nossa sociedade é repleta de hipocrisia, discriminação. O que nos esquecemos é que nós é que formamos a sociedade e os valores que empregamos e repassamos a nossos filhos é que podem romper essa corrente.
Acredito que o pré-conceito acabe com a intimidade, quando se tem conhecimento sobre a realidade de quem se olha ou quando você se põe no lugar do outro. Habilidade de poucos, olhar, agir, sem julgar. Perceber que nós todos somos vulneráveis e que a diferença é o que nos torna normais.
Acho que o maior desafio de sua filha será conviver com o preconceito que os olhos dos outros transmitem e aprender a se defender. Sem que para isso, ela se corrompa por uma discriminação às avessas. Ela descobrirá que nem sempre poderá modificá-los, e que talvez nunca seja capaz de entendê-los. Pois o preconceito não tem uma razão concreta, justificável, a não ser o medo do que é diferente. É difícil para alguém aprender a se proteger de uma agressão sem motivo. Aceitar que a razão de ser agredida não é culpa sua. Quando alguém sofre repetidas vezes uma punição injustificada, começa a se questionar sobre sua parcela de culpa, como se existisse alguma.
Uma missão pela qual vocês lutarão juntos. E que só poderá ser enfrentada com amor e compreensão para que a Michele cresça com orgulho de ser quem é, consiga ser tolerante com a incompreensão humana, mais forte que os olhares de quem não adquiriu essa capacidade, e para que ela seja de certa forma ingênua, para que seus olhos se conservem como os de agora, cheios de amor e dignidade, iguais para quem quer que seja.
Abraaço
Deva
Bom caro Cesar, posso dizer que ja senti na pele os olhos dos outros. E senti na pele literalmente, sou portador de uma doença psicossomática chamada psoríaze, que se manifesta na pele causando lesões que são um tesouro aos olhos que descreve nessa crônica.
No principio os olhares machucavam tanto que o fato de eu mal conseguir desenvolver atividades basicas como mecher as mãos, ou mesmo caminhar, pouco me importava...
por um bom tempo, tentei fugir ao máximo do convivio social, mas logo percebi que isso era impossivel... fui dominado por uma onda avassaladora de depressão, me envolvi em caminhos lúgubres e penosos à alma, enfim... muitas pesoas ainda me diziam que era tudo imaginação minha! o que me deixava ainda mais angustiado e raivoso em relação a essa situação.
Hoje estou um pouco melhor, recuperei boa parte dos movimento, mas as lesões ainda chamam atenção dos olhares intrometidos... tento levar tudo com o menor dano possivel, e me envolver com aqueles que me amam por aquilo que sou realmente, e não com o que está mais aparente aos olhos.
Hasta!
Olá Cesar,
Seu texto é lindo. De uma lindeza humana, poética, quase celestial. Os Olhares...Hoje, já me acostumei um pouco com eles. Se me olham, eu olho de volta até o ponto de que o outro olhar se sinta constrangido. mas quando adolescente, numa cadeira de rodas, sofri amargamente. As pessoas qdo me viam, entravam em suas casas chamando outros a verem esta q passava pela rua. Me sentia um ET. há algum tempo atrás, conheci um tal conceito de alteridade. mas pq pouco o usam. eu sempre me coloco no lugar do outro, e se meu olhar não pode ser de normalidade diante de algo, então não olho. volto p casa, penso, repesno, e tiro o outro do seu lugar e me coloco nele. qdo o entender volto a olhá-lo.
Fico pensando: se somos todos tão diferentes, pq não encaramos a diferença como normalidade?
Achei vc um cara "lindo", com uma filha linda e uma familia linda (0 Estou meio Caetano rsrs.). A Michele, vai sentir a diferença nos olhares, mas sei q vcs vão dar suporte a ela para se sobrepor aos olhares.
Abraços
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