O Solapador




Poema publicado no Jornal do Cambuci e no portal Mundo Mundano.
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O Solapador é um destruidor impiedoso, especialista em cavar. Cava e é assim que destrói, silenciosa e diligentemente. É um maligno, ardiloso e embusteiro que se locupleta da derrocada alheia.


O Solapador é um trabalhador paciente. Trabalha sem pressa, mas com afinco e assiduidade; não perde chances para fincar sua pá, que ao invés de terra, remove a honra do desavisado.

O Solapador trabalha na escuridão, sob teus pés, sem que tu, pobre de ti, ao menos imagines. Age na tua distração, enquanto tu dormes, distrai, sai...

O Solapador não se identifica facilmente, pois atua nas tuas brechas, nas ranhuras da tua ingenuidade, da tua inocência e credulidade.

O Solapador não tem sexo nem idade, pode ser homem, mulher, jovem ou velho. Pode ser parente, amigo, colega de trabalho, da igreja, do grupo, vizinho... Pode ser quem tu menos esperas. Há uma certeza inabalável: é sempre um velhaco, ordinário e matreiro.

O Solapador é ganancioso e invejoso. Deseja tua posição, tua mulher, teu carro, tua casa, tua inteligência, tua vida, teu emprego...

O Solapador não ataca o fraco, cuja fraqueza o derruba por si. Busca o forte, gosta do desafio de minar grandes alicerces e ver desabar grandes construções.

O Solapador planta a semente da desconfiança, encomprida conversa ruim sobre ti; às vezes, até o edifica publicamente, para assim fazer que não é solapador.

O Solapador levanta contra ti um falso, alardeia um deslize teu aqui, incrementa, com maldade, uma falha tua acolá; e assim remove mais uma pazada de teu solo já instável. Covarde e dissimulado, finge ser teu amigo para, oculto pela ilusão que produz, derrubar-te sem que tu possas te defender.

O Solapador estará lá, saibas, no dia em que o terreno sacudir sob teus pés repentinamente. Quando tudo estiver ruindo em tua vida, tu, em tua queda, ainda terás tempo de arregalar os olhos, olhá-lo ali ao lado e, inconformado, gritar: Você?!

Oh, pobre crédulo, agora é tarde! Sim, creia. Era ele o carregador da pá silenciosa.

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Cesar Cruz
outubro 2009
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7 comentários:

Francisco José Rito disse...

Meu amigo, grande verdade. Quero dar-lhe os parabens e pedir-lhe autorizacao para postar este seu texto amanha no meu blog, devidamente identificado, claro.
Um abraco

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, César:

Ótima abordagem.
É aquele que destrói e se gaba; encobre porque é de sua índole covarde.

Há coisa mais perniciosa para uma sociedade? Para a convivência entre os humanos? E há de se conviver com isso até o final de nossos dias.
Ótima a foto!

Bjs
Tais Luso

Gabriel Fernandes disse...

Opa, meu amigo.
Gostei! Gostei da metáfora. Gostei da composição. Gostei do tema filosófico. Surpreendente.
Grande abraço!

Mariana disse...

A obra de Dali resgata a agonia exata do homem vítima do traidor, do solapador, do embusteiro, do maligno...
Adorei César!

bj
Mariana Venguel
Aclimação - SP

Anônimo disse...

Me fala quem foi que eu mato!
Beijos,
Yeah.

Andre Whitaker disse...

Adorei essa sua composição, você está se lapidando cada vez mais, está se tornando uma jóia de contador de causos! Você sabe que eu sempre o apoiei nessa empreitada. Vou pedir licença para postar um poeminha batidinho mas sempre divertido.

"Todos esses que aí estão atravancando meu caminho,eles passarão...eu passarinho!"
Mario Quintana

E saiba que está tudo bem por aqui. Vamos marcar um dia desses para comer um sashimi.

Abraços,

Anônimo disse...

È a mais pura verdade.
Infelizmente alguns "Seres Humanos" são tão podres que custo acreditar que terá um cantinho mesmo que seja no inferno(Imagina se o capeta vai querer um rival á altura...rsrs)
Que Deus nos proteja!
Bjss